domingo, 14 de novembro de 2021

BAILE IMPERIAL NO IDEAL CLUBE


“O baile em traje à rigor teve início às 21 horas com término pré-marcado para meia noite. Foram três horas “de vivo fulgor (…)”


Espero que o leitor não fique surpreso em saber que nos idos de 1927, quando o regime republicano já estava consolidado em todo o País, a fina sociedade manauense viveu dias de glória com a realização de verdadeiro baile imperial que movimentou damas, cavalheiros, jornalistas curiosos e aqueceu as línguas acostumadas a intrigas e futricas na província, especialmente daqueles que não mereceram o destaque do convite para o ágape.

Estando de passagem pela capital amazonense em honrosa visita, membros da Família Imperial brasileira tomaram a iniciativa de realizar baile especial em agradecimento pela boa acolhida que tiveram quando, dispostos a conhecer mais de perto a região da floresta amazônica e as cercanias da cidade mais distante do Norte, acabaram por propiciar verdadeiro burburinho e disse-me-disse nas rodas sociais da época.

O cronista que teve a oportunidade de descrever a festança não contou conversa e deitou falação sem medida, lançando o fato na primeira página de jornal, com detalhes e requintes que, nos dias.de agora, estimularam recontar o evento.

A recepção que os príncipes de Orleans deram ao melhor grupo da nossa sociedade foi requintada, como não poderia deixar de ser.

Foi realizada no Palacete Mello Rezende, localizado na Praça do Torquato Tapajós a que o povo chama de Praça dos Remédios, em cujo edifício sofisticado e decorado por Domenico De Angelis os príncipes se achavam hospedados.

O baile em traje à rigor teve início às 21 horas com término pré-marcado para meia noite. Foram três horas “de vivo fulgor em que a nossa sociedade teve ocasião de privar com os nossos augustos hóspedes”, como disse o jornalista em linguagem comum daqueles anos.

A organização geral do evento foi dos Mello Rezende, com música a cargo do maestro e professor Mozart Donizetti e orquestra montada para a ocasião.

A parte da dança foi iniciada em par pela princesa Isabel e por Luiz Crehange, cônsul de França, seguidos do príncipe D. Pedro e da princesa Elizabeth.

A festa foi considerada “distinta e seleta”, com serviço de buffet excelente e a presença dos cônsules do Peru, Alemanha, Bélgica, Chile, Argentina, Estados Unidos, Equador, França, Itália, Japão, Inglaterra, Colômbia, México e Paraguai.

Da prata da casa manauense estavam por lá, entre brindes, bailados e na maior elegância, os casais Raul Azevedo, Huascar de Figueiredo, Nunes de Lima, Bretislau de Castro, Luna Alencar, Paulino de Mello, Raul da Matta, Maxinino Corrêa, Araújo Lima e Costa Porto, muitas jovens senhorinhas como Honorina Amora, Natércia Coelho, Nair e Nadir Chaves e Mello, Mercedes Borba, HelmosaFadul desfilando a sua beleza inconfundível, Delfina Loureiro, e mais os senhores Análio Rezende, Arthur Cardoso, Madureira de Pinho, major Floriano Machado, Vivaldo Lima, Lyra Pessoa e Américo Ruivo; dentre outros.

A programação oferecida aos príncipes foi pomposa, dela constando visitas a Fábrica de Cerveja e ao Tarumã que eram verdadeiros cartões postais da cidade, ao porto flutuante, ao Club Inglês, aos Correios, ao Instituto Geográfico Histórico do Amazonas, ao Clube Alemão, passeio fluvial no vapor “Inca”, sessão de cinema no Polytheama e recepção pela Academia Amazonense de Letras, na sede do Ideal Clube.

Fico a imaginar a sofisticação dos trajes, perfumes, charutos, bengalas, chapéus, sedas, cristais, vinhos e champanhes, tudo isso à serviço de uma noite de gala que deve ter se aproximado do último baile na Ilha da Fiscal- aquele da derrocada do império -, só que este foi realizado na silenciosa ‘noite de uma cidade que ainda sonhava em ser Liverpool ou Paris, mesmo encravada na selva selvagem.



  

Fonte de Pesquisa: 

Roberio Braga

 

 



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