quinta-feira, 20 de junho de 2024

ESPERANDO O TELEFONE DAR SINAL




TELEFONES DE DISCO



O MEU TIO JOÃO era o encarregado de comprar e cuidar da carne de um Grande comércio. E como ele era entendido do assunto!

Era capaz de dar uma palestra sobre cada pedaço do boi. Falava de acém, cupim, fraldinha, ponta de agulha, filé-mignon, alcatra, maminha, picanha, patinho, coxão mole, coxão duro, lagarto, contrafilé como quem fala de arroz com feijão. Ninguém ali conhecia mais de carne que O meu tio João.

Toda manhã era ele quem ligava para O único açougue da cidade para encomendar a carne. Fazia isso diariamente porque tinha pavor de carne congelada. Carne pra ele tinha de ser fresca. Se fosse apenas ligar para o açougue e fazer a encomenda do dia, seria fácil. O problema era que, até chegar ao açougueiro, ele tinha de enfrentar um telefone a manivela.

O telefone do Grande Hotel ficava na parede da copa, ao lado de uma escrivaninha de madeira de lei de 1925. Aquele telefone preto dependurado na parede da copa era conectado a uma central e operado por uma telefonista. Para conseguir falar com o açougueiro, meu tio João tinha de girar uma manivela para gerar uma corrente de toque e chamar a telefonista.

Dono do maior repertório de palavrões da face da Terra, meu tio passava horas da manhã rodando aquela manivela e xingando. Quando conseguia falar com a telefonista, xingava até a quinta geração da pobre coitada como se fosse ela a culpada pelo tempo perdido ali com uma lista de carnes na mão. No dia em que a telefonista, já sabendo que era o meu tio, fez a ligação direta para o açougue, antes ouviu:

— PQP! Essa merda já é automática?

Aí vieram os telefones automáticos, aqueles pretos e pesados, de disco. Só que para dar o sinal era uma novela. Você tirava o fone do gancho e nada, silêncio absoluto. Havia aqueles que ficavam apertando o botãozinho — tec, tec, tec — na esperança de que desse sinal de repente. São talvez as mesmas pessoas que hoje, inconformadas com a demora do elevador, ficam apertando o botão, mesmo que já iluminado.

O meu pai pegava o fone, colocava-o em cima do móvel e ia buscar o Jornal do Commércio pra ler. Como não havia viva-voz, ele segurava o aparelho com o ombro e ia virando as páginas do jornal.

Eu pegava o Almanaque do Tio Patinhas, o meu irmão, os livrinhos do rB1, e minhas irmãs, as revistas Querida, Ilusão e Joia.

Não tinha telefone na cidade que desse sinal assim que tirássemos do gancho. Era preciso ficar ali plantado às vezes dez, quinze minutos. O pior de tudo era quando dava o sinal, discávamos o número desejado e o telefone dava ocupado.


ALÔ! ALÔ!

  • O QUE DEMORAVA MAIS? ESPERAR O TELEFONE DAR SINAL OU HOJE ESPERAR A MUSIQUINHA DO CALL CENTER TERMINAR?
  • LEMBRA DE UMA BRINCADEIRA ESTÚPIDA QUE SE CHAMAVA "DAR UM TELEFONE"? ERA SIMPLESMENTE DAR DOIS TAPÕES
  • LEMBRA QUANDO UM TELEFONE ÀS VEZES VALIA O MESMO QUE UM CARRO? 
  • TELEFONE ERA UM NEGÓCIO. HAVIA ATÉ MESMO O BANCO DO TELEFONE. 
  • AGORA RESPONDA RAPIDINHO: QUANTO TEMPO VOCÊ PASSA TODOS OS DIAS OLHANDO PARA O SEU CELULAR?


 



   

Fonte de Pesquisa

ONDE FOI PARAR O NOSSO TEMPO de Alberto Villas

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