DESCONGELANDO A GELADEIRA
Neste tempo eu morava na Leonardo Malcher, nossa geladeira era branca de cantos arredondados, dentro, além das grades de ferro, nenhuma tampa de plástico e ainda tinha um relógio enorme pra graduar a temperatura. Relógio que cada vez em que a geladeira era aberta eu tinha que dar uma "girada" nele.
Ainda tinha a mania de abrir o congelador e assoprar lá dentro só pra ver a "fumaça" sair da boca. Mas sim, quando era pra descongelar a geladeira as coisas aconteciam assim:
O ANÚNCIO ERA FEITO com pelo menos dois, três dias de antecedência.
Era uma voz rouca que vinhá lá da cozinhá e se espalhava pelos cômodos da casa.
– Sábado vou descongelar a geladeira!
Aquilo poderia ser traduzido como um aviso, uma ameaça: tirem toda a tranqueira que estiver no congelador!
A geladeira, que chamávamos de Frigidaire, era da marca GE. Só o fato de chamar a geladeira pelo nome americanizado já fazia a gente se sentir milionário.
O que minha mãe chamava de tranqueira eram pilhas Ray-O-Vac, as amarelinhas, Eveready, a pilha do gato, além de chicletes Ping-Pong mascados, um restinho de tijolo napolitano da Kibon e picolés de limão.
Na verdade, uma limonada que colocávamos na forma de alumínio e, assim que começava a congelar, espetávamos um palito, ou colocávamos num copo de extrato de tomate vazio e íamos comer de colher.
Durante a semana ela ia liquidando tudo que havia dentro da geladeira.
Na sexta-feira à noite, antes de se deitar, quando já não havia quase nada dentro da Frigidaire, minha mãe ia até a cozinhá e tirava a tomada da parede. Ouvia-se um barulho semelhante ao da morte. Ela ainda abria a porta para conferir se a lâmpada havia se apagado. Sim, estava escura.
Então, ela forrava todo o piso da cozinhá com exemplares de jornal, panos de chão, ou roupa velha, prevendo o dilúvio. A geladeira passava a noite com a porta aberta. De madrugada a gente ouvia o gelo partindo.
E o sábado chegava. Cedinho ela acordava e ia direto à cozinhá ver o estrago. Os jornais e os panos de chão estavam encharcados, e pequenas poças já se formavam aqui e ali. Aos poucos minha mãe ia tirando verdadeiros icebergs que grudavam no congelador e até mesmo fora dele. Era uma cena digna de documentário da BBC sobre descongelamento. Eram torrões que iam sendo tirados e jogados na pia... ou se a pia fosse longe da geladeira, ela colocava o gelo em uma bacia de alumínio.
Quando um dos filhos vinha com uma faca na mão, ela esbravejava:
– Objeto pontudo não!
Minha mãe passava um sábado inteiro por conta de descongelar a tal Frigidaire. Só no final da tarde, depois de tudo seco e limpinho, ela começava a colocar o pouco que restava lá dentro, tudo muito arrumadinho, cada coisa em seu lugar.
Finalmente colocava suas Havaianas nos pés – que ela chamava de sandália de borracha – e ia lá ligar a geladeira. O barulho agora era diferente, como se algo tivesse nascido de novo. Ela conferia a lâmpada acesa e ia comprar carne, peixe e sorvete para encher novamente o congelador.
SOBRE AS GELADEIRAS
- A GELADEIRA SEMPRE TINHA BRAHMA, MESMO QUE FOSSE ANTARCTICA, PORTUGUESA, OURO BRANCO OU MALT 90. AS PESSOAS DIZIAM: COLOQUE UMAS BRAHMAS NA GELADEIRA.
- A ÁGUA VIRAVA CUBOS DE GELO NUM RECIPIENTE DE ALUMÍNIO E COM UMA ALAVANCA. NADA DE EMBALAGEM DE PLÁSTICO NAQUELE TEMPO.
- E AS GARRAFAS DE ÁGUA ERAM DE PLÁSTICO PARECIDAS COM UM BALÃO, SEM FALAR DA JARRA DE SUCO EM FORMA DE ABACAXI.
- SIM, HOUVE UMA ÉPOCA EM QUE GELADEIRA NÃO ERA UMA BRASTEMP E QUANDO PASSOU A SER, OS RITUAIS ERAM OS MESMOS.
- ATUALMENTE... HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ NÃO DEGELA UMA GELADEIRA?
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