sábado, 22 de abril de 2023

O Cinema na Amazônia & a Amazônia no Cinema

O Cinema na Amazônia & a Amazônia no Cinema

por Selda Vale da Costa e Antônio José da Costa.



“Entre o pitoresco e o dramático, o cinema na Amazônia foi um ato de heroísmo”

Pedro Veriano, 2006


Contexto


Com a eclosão da borracha na economia mundial no final do século XIX e início do século XX, a Amazônia se insere num período de fausto, ostentação e contradições. Belém e Manaus são as duas capitais que viverão os efeitos desse momento.


Eldorado dos aventureiros, inferno verde dos naturalistas e paraíso perdido dos poetas, a Amazônia seria cantada e decantada, romântica e cientificamente, por viajantes e estudiosos, por artistas e políticos de todas as épocas. Foi louvada, amaldiçoada e chorada em verso e prosa. Percorrida, penetrada, pisada e mal interpretada por “quadrilhas” de turistas. A região amazônica e o seu grande rio também estiveram, desde o início, sob o foco e enfoque do novo engenho tecnológico desse momento – o cinema -, que buscou capturar segredos, mitos e almas de seus habitantes.


A chegada do cinematógrafo à Amazônia coincide com o apogeu do ciclo da borracha. As duas capitais haviam se transformado em grandes metrópoles, com uma elite de consumo requintado, embora de comportamento nem tanto, como atestam cronistas da época. Talvez por isso, em Belém como em Manaus, o cinema ao chegar em 29 de dezembro de 1896 e 11 de abril de 1897, respectivamente, não tivesse causado impacto nas cidades. O novo invento dos irmãos Lumière passou quase despercebido. Ao ser-lhe atribuído o status de “arte nobre”, fazendo-o penetrar pelos recém-inaugurados templos culturais das elites manauara e belenense – o Theatro Amazonas e o Theatro da Paz, respectivamente – o cinema desencontrou-se de seu público predileto, as camadas populares, que lotavam as praças e cafés dos centros urbanos para ver o maravilhoso aparelho das “figuras que se mexem”. O local escolhido, as deficiências técnicas e os preços proibitivos afastaram o grande público para outros centros de diversões mais atrativos e menos dispendiosos. A elite que foi aos dois teatros tampouco se agradou daquele novo divertimento.


A antiga Cidade da Barra ganhara os noticiários do velho mundo e era destaque nas páginas de conceituadas revistas europeias[1]. Falava-se de um novo Eldorado, que convidava a aventuras fantásticas. Manaus, pouco a pouco, enchia-se de uma massa de passantes que cruzavam, apressados, as novas avenidas surgidas com os recentes aterros dos igarapés. Bondes a vapor, rapidamente substituídos pelos modernos elétricos, desfilavam pelas novas pontes de ferro inglesas. Línguas estranhas cruzavam-se pelo novo serviço telefônico. Um armazém para embarque e desembarque não mais dava conta das centenas de passageiros e volumes de carga que entravam e saíam diariamente da cidade pelas dezesseis companhias de navegação a vapor.


Em 1897, Manaus contava, além do imponente e majestoso Teatro Amazonas, com alguns pequenos teatros, como o Éden, muitos centros de diversões, clubes carnavalescos e esportivos, associações litero-musicais e os novos clubes noturnos, alguns deles cabarés camuflados. Circos pululavam pelas amplas e arborizadas praças da cidade. O povo gostava de ir às corridas de touros no Coliseu Amazonense, ao carrossel de cavalinhos no Recreio Ajuricaba e aos arraiais no Pobre Diabo. Aos domingos, os passeios de bonde eram o divertimento de todas as famílias. (Daou, 2000)


A borracha havia transformado a Amazônia. Manaus, a aldeia decadente de 1850, desabrochara e transformara-se na efervescente metrópole dos trópicos. E para abrilhantar ainda mais as noites alegres da nova elite boêmia, a 16 de outubro de 1896 havia sido inaugurada a iluminação elétrica no centro da cidade, cuja luz parece ter demorado a sobrepor-se ao brilho da lua: “Nada podemos ainda dizer a respeito deste serviço, porque sendo de luar a noite de inauguração, pouco ou quase nenhuma diferença notamos entre a claridade que apresentava a luz elétrica nas ruas em que ela apareceu e a que ostentava a lua nas demais ruas onde a luz elétrica não chegou”. (Amazonas, 17.10.1896, p. 1).


No final da década de 90, Manaus era outra. Dos 3.640 habitantes em 1848, pulara para 45.000, em 1897. As rendas de exportação da borracha enchiam os cofres públicos e o governo se esmerava em criar as melhores condições para transformá-la em uma cidade moderna, o novo habitat do capital estrangeiro: mandou escritores e políticos como propagandistas à Europa, trouxe fotógrafos que registraram a cidade em álbuns que percorreram as capitais europeias, metamorfoseou-a aos gostos estrangeiros. Manaus despiu-se de suas vestes indígenas, abandonou sua água de moringa por água de Vichy, trocou perfumes de flores e raízes silvestres por sofisticados frasquinhos parisienses, desprezou seus aluás e o saboroso guaraná por bourbons franceses e pelo schopp alemão. Enfim, o cenário estava pronto para abrir o espaço à “modernidade”, que se instala, sem retorno.


A elite divertia-se: temporadas líricas no Teatro Amazonas, saraus artístico-musicais e etílicos no Club Internacional e no Ideal Club, jogos e bebidas no Hotel Casina, alta prostituição na Pensão da Mulata e em outros cabarés. Para o divertimento da plebe havia touradas, carrosséis, cabarés de última categoria, arraiais, passeios de bondes, circos e espetáculos teatrais em hotéis-pardieiros…


O fausto da borracha, com suas noites brilhantes e sons alegres, não era capaz, entretanto, de esconder a miséria e a fome que rondavam a periferia da cidade. Funcionários sem vencimentos, crimes, roubos, mendicância escancarada, crianças perambulando pelas ruas, o outro lado triste e sujo do rosto de Manaus vinha estampado nas páginas policiais dos jornais, enquanto na primeira folha louvava-se a “calma”, a “ordem” e a “tranqüilidade pública” da capital. (Dias, 1999).


Nesse clima de esplendor, riqueza e miséria, o cinema chegou a Manaus, tímida e desastrosamente. Com um simples anúncio na primeira página do jornal O Imparcial no dia 11 de abril de 1897, sua estreia deixou muito a desejar, conforme informa o mesmo jornal, no dia 13:


“Sábado tivemos no Teatro Amazonas uma exibição do Cinematographo. O aparelho devido a fato que ignoramos não trabalhou com perfeição, pelo que o seu exibidor não repetiu o divertimento no domingo.”


Quem foi o empresário, ambulante certamente, que trouxe o cinematógrafo? Que “photographias animadas” teriam composto o programa dessa primeira exibição? Por que não houve outras sessões? Que aparelho cinematográfico teria sido utilizado? Perguntas que os periódicos de 1896/97, exaustivamente folheados, não respondem satisfatoriamente.


Os ancestrais do cinematographo


A ausência de comentários nos jornais, a falta de entusiasmo em relação ao novo invento talvez possa ser explicada por se pensar tratar-se das mesmas “vistas”, “quadros dissolventes”, que desde 1857, ou antes mesmo, vinham aparecendo nos teatrinhos de Manaus.


Segundo o jornal Estrella do Amazonas, já em 1857 o “sr. Silva” teria aparecido com um cosmorama, aparelho que seria novamente apresentado em novembro e dezembro de 1862, de empresário desconhecido:


Novo Cosmorama com muitas bonitas vistas


A 500 Rs. a entrada

Quinta-feira, 20 de Novembro de 1862, na rua Formosa, casa onde morou o sr. Alferes Galvão, professor de música.


Vistas


Vista da Praça do Palácio e do Porto do Maranhão; Dita de Savóia no Inverno; Dita da Tomada e Incêndio de Sebastopol; Dita da Grande Cidade de Roma; Dita de uma caçada em Fontainebleau; Dita da retirada da caçada em dita; Dita da entrada de S. M. a rainha da Inglaterra em Paris; Dita de J. J. Rousseau dando uma lição de botânica a Ermeville.”


O Polyorama, um dos tantos ancestrais do cinematógrafo, esteve por Manaus em 1861, em agosto e setembro:


“O abaixo assinado comunica ao respeitável público que vai dar algumas representações de polyorama, as quais se dividirão em quatro, a saber: na 1ª, 2ª e 3ª noites, apresentará vistas novas e na 4ª repetirá todas aquelas, para que as famílias que não vierem a principio apreciem a todas.

Convida, pois, aos Exmos. Srs. chefes de família para que se dignem concorrer a este divertimento para, depois de concluídas as vistas, o abaixo assinado continuar as representações para o povo.

A casa destinada para este fim é n’uma das salas contíguas à casa comercial do Ilmo. Sr. Major Francisco Antonio Monteiro Tapajós.”

Estrella do Amazonas, 24. 08.1861, p. 4.


Em 1870, no dia 15 de fevereiro, estreou outro Polyorama, de F. Cardoso, no Teatro Phenix:

Está aberta uma assinatura de cinco soirées de Polyorama sujeitas ao abatimento de 5% a favor dos assinantes. Cada soirée constará de 40 quadros que interessam à história, à mitologia, às cenas da vida no que esta pode oferecer de ridículo ao riso e à galhofa. A par da instrução, este gênero de divertimento proporciona uma distração honesta e decente. Todo o trabalho se opera sob os princípios gerais da ótica; e porque o teatro não oferece o espaço necessário à ação dos aparelhos, haverá todo o cuidado para conservar a ilusão aos espectadores. Os srs. que desejarem subscrever, tenham a bondade de fazê-lo à rua Brasileira, em casa do sr. Emílio Bastos. Manáos, 10 de fevereiro de 1870. F. Cardoso.”

Amazonas, 10.02.1870, p.2.


Em 1878, no Teatro Beneficente, houve a apresentação de “quadros dissolventes”, pelo sr. Loureiro, e números de “prestidigitação”, pelo Sr. Ramos (Amazonas, 29.03.1878). Os cosmoramas continuaram a aparecer por Manaus até 1901, em plena era do cinematógrafo.


Em 1897, houve ainda a apresentação de um novo invento que combinava luz, imagem, cor e som: o Vitascope, de Thomas A. Edison, cuja apresentação pública mundial havia sido no Koster & Bial’s Music-Hall, de Nova York, em 23 de abril de 1896. O Vitascope foi trazido pela Cia. de Variedades Edna & Wood, que se apresentou no Teatro Amazonas de 10 a 22 de agosto de 1897[2]. Entretanto, a experiência parece ter sido mais uma vez desastrosa:


“[...] por não serem ainda fixas, tremeram muito as vistas, e haver uma grande demora nas mudanças de um quadro para o seguinte, tornou-se uma cacetada. No Pará fizeram melhores experiências; não só eram fixas as figuras como também tinham as cores naturais.”


Amazonas, 19.08.1897, p. 3.


“O sr. Wood com esses aparelhos estraga completamente os seus espetáculos, pois só servem de cacetear os espectadores [...] O fonógrafo que anteontem funcionou traz-nos a lembrança de um instrumento, cujas vibrações parecem ser produzidas por meio de raspadelas.”


Amazonas, 24.08.1897, p. 3.


O cinema chegou a Manaus e desapareceu misteriosamente. Quem pensaria nessa altura que esse novo invento viria a tornar-se o soberano dos espetáculos, a quase suplantar o teatro, a música, os circos e as touradas?


Os vendedores de ilusões


O cinematographo só voltaria a iluminar as telas de Manaus em setembro de 1900, no Hotel América, considerado um bordel, e sem programação publicada nos jornais, apenas referindo-se a um aparelho do sr. Parente. Seria o Nicola Parente, o pioneiro do cinema no Pará? (Veriano, 1999; 2006). Mais uma vez, mereceu pouco crédito da incipiente crítica jornalística, ganhando pouco público, que preferia divertir-se no Polytheama, na Av. Eduardo Ribeiro, onde as corridas de cavalinhos, a banda de música e as bebidas tornavam alegres as noites manauaras.


Em 17 de março de 1901 surgiu pela primeira vez nos jornais um programa de cinema! Constava a sessão de 25 fitas, ou “quadros”, distribuídas em cinco “actos”, e o prazer do público tinha sua razão: eram os filmes de Georges Méliès, encantando com suas mágicas e trucagens. Era o verdadeiro cinema-espetáculo, opondo-se ao cinema-realidade, ou simples documentação do movimento humano. As vistas apresentadas nesse dia foram: Raio X, Amazonas guerreiras, Os dois banqueiros, Um mágico, Mudança extravagante, O homem canhão, A cigana pedinte, Amor interrompido, O pesadelo, O beijo acanhado, Primeira noite de noivado, Vagabundo mágico, Um pintor modelo, Um rapaz na árvore, Dança de fogo, Cavaleiro misterioso, Fausto e Margarida, Desgraça do ciclista, O homem de quatro cabeças, Cabritos amestrados, Prazo enganado, Três jacarés, Um gendarme roubado, As meninas acrobatas e Ensaios de dança. (Amazonas, 17.03.1901, p. 2).


“Essa falta de arte e de artistas, nesta boa Manaus, fazem-me ficar completamente doente…”, lamentava-se o “Zeca”, do jornal Amazonas, em 09 de maio de 1901. Puro exagero, já que Manaus vivia o auge do fausto. A reclamação do articulista referia-se, entretanto, aos artistas e à produção artística locais, realmente quase inexistentes. Manaus era um verdadeiro saloon, aberto noite e dia. No novo ambiente de cumplicidades políticas, de dubiedades morais, de consumo desenfreado, a cultura e a arte não podiam ter significado diferente. Arte e cultura amarradas ao gosto e moda da Europa. Tudo era importado: do feijão ao arroz, do vinho às roupas, das companhias teatrais à música e à literatura. A produção artística local parecia algo completamente impossível ao pensamento reinante e os que nela se aventuravam, ou copiavam mediocremente os autores estrangeiros ou incensavam os “feitos heróicos” dos governantes e sua “corte” de funcionários parasitas. Na área cinematográfica, as coisas foram um pouco diferentes.


Neste ano de 1901, ainda, Manaus conhece outro parente próximo do cinematógrafo, o Biographo de Edison. Provavelmente, tratava-se de um aparelho da American Biograph, concebido por Lauste e Dickson, que de 1901 a 1905 estaria apresentando-se também no Rio de Janeiro, no Cassino Nacional e na Maison Moderne (Araújo, 1985). Seja qual tenha sido o aparelho utilizado, aberto o caminho com os cinematógrafos anteriores, o público ficou satisfeito.


Durante todo o ano de 1902 não há referências nos jornais a qualquer empresário ambulante com seu cinematógrafo. As casas teatrais procuravam melhorar a sua aparência arquitetônica para receber condignamente as inúmeras companhias estrangeiras, pois o Teatro Amazonas já era insuficiente para acolher a todas.


Em dezembro de 1902, entretanto, chega a Imperial Companhia Japoneza Kudara, procedente de Belém, que trouxe como novidades a duração das fitas, 20 minutos, e os novos aparelhos, o projetor Molteni “L’Aster” e o Catoptricon de Farragut. Projeções elétricas com a máquina Molteni haviam sido realizadas no Rio de Janeiro em fevereiro de 1898, com imagens da guerra de Canudos (Araújo, 1985, p.41). A Cia. Kudara deu apenas cinco espetáculos e logo seguiu para o sul do país.


O ano de 1903 foi silencioso em relação ao cinema. Apenas, em novembro, a Companhia de Arte Ítalo-Brasileira, de Arlindo A. da Costa, vinda do Maranhão, (Moreira Neto, 1979), trouxe para o Teatro Amazonas as imagens ou figuras em movimento.


O cinema fala e canta!


Em 1904: finalmente o cinema falante! E quem o introduz é a Empresa Eduard Hervet, que iniciou sua turnê pelo Brasil apresentando-se no Teatro Amazonas, de 18 de março a 05 de abril, com o Cinematographo Fallante Lumière. Foi a primeira vez que os jornais fizeram referência explícita ao inventor do cinema. A Empresa Hervet tornar-se-ia a empresa ambulante melhor estruturada, retornando a Manaus por diversas vezes: 1906 (abril, novembro e dezembro), 1907 (janeiro, maio e junho), 1908 (junho a setembro, e dezembro) e 1909 (janeiro e fevereiro).


Tanta propaganda sobre o Cinematographo Fallante e nada do programa quando ele estreou, a 22 de março! Mas no dia 26, num sábado, é anunciado: “o artista parisiense Galipaux em uma cena de conversação telefônica”. E mais: A Exposição de Paris em 1900, Banho casual (cômica), A morte do aeronauta brasileiro Severo, Um carnaval em Nice, Robinson Crusoé, O binóculo d’avó, etc. O cinematógrafo falante voltará somente em abril de 1906, ainda com a Empresa Hervet e ainda no Teatro Amazonas. Em todos os seis espetáculos que a Empresa ofereceu há fitas cantadas por famosos artistas parisienses: 11 de abril, o cantor Mercadier, do Cassino de Paris, na canção “Bonsoir, madame la lune”; dia 14: “La femme est un jouet”, cantada por Mercadier; dia 15: “La Venus du Luxembourg”, por Polin; dia 17: “Selon la saison”, e dia 18, “Bonsoir, madame la lune”, cantadas por Mercadier, último espetáculo da temporada.


Antes que a Empresa Hervet retornasse a Manaus, em dezembro de 1906, outro cinematógrafo falante se apresentará, de 13 a 25 de novembro, no Polytheama, casa de diversões que foi alçada a teatro, na mesma avenida de Eduardo Ribeiro, canto com a rua 24 de Maio. São cantadas na tela: Fausto, A filha do regimento, Maxixe, Carmen, A balança automática, Ave-Maria de Gounod, Barbeiro de Sevilha, Duo de cornetins, Estudantina, Solo de violino, Aída, Mignon, Solo de ocarina, España, Rigoleto, Sinos de Corneville e 28 dias de Clarinha.


Estava introduzido, assim, esse gênero de filmes cantantes que o Brasil viria também a produzir e que percorreram parte da primeira década para emudecerem depois de 1914. No sul, as músicas dos filmes não vinham apenas através do fonógrafo, mas eram cantadas ao vivo, atrás do palco e da tela, por artistas famosos, proeza que não foi realizada em Manaus, visto a ausência, nos jornais e revistas, de qualquer referência a esse truque artístico.


Os palácios dos sonhos


1906 representou um marco divisor no espetáculo cinematográfico local. O cinema havia conquistado a cidade e os empresários começaram a perceber as vantagens financeiras do empreendimento, que se tornou um investimento de lucros fabulosos a partir da segunda década do século. As casas de exibição fixa serão uma realidade em 1907, com a inauguração do Casino-Teatro Julieta, que irá ocupar o espaço do Teatro Polytheama e do Teatro Amazonas.


A necessidade de um local permanente e apropriado à exibição cinematográfica em Manaus manifestou-se a partir de 1907. O monopólio da produção, distribuição e exibição, em 1909, criará as condições para o crescimento da indústria do cinema, com salas fixas de exibição.


Em Manaus, até cerca de 1910, o cinema passeou por hotéis e confeitarias, feiras e arraiais, circos e cafés-concertos, teatros de variedades e, por vezes, em pleno espaço aberto, nas praças públicas. É verdade que desde seu aparecimento instalou-se no Teatro Amazonas, que o acolheu até o fim do período ambulante. Entretanto, a partir de 1908, com a crise financeira que se aproximava a passos rápidos, o Teatro Amazonas já não suportaria o alto custo das grandes companhias estrangeiras, e apenas ocasionalmente abriria suas portas para receber uma ou outra empresa teatral nacional, muito raramente o cinema.


A inauguração do Casino Julieta, a 21 de maio de 1907, introduziu mudanças importantes na exibição cinematográfica. Construído como teatro, desejado como café-cantante, o Julieta acabou por transformar-se na primeira sala de projeção fixa da cidade, onde o cinema construiu seu ninho para não mais levantar vôo. Recinto amplo, com cerca de 1.500 lugares, o Julieta irá funcionar diariamente, só interrompendo seu movimento por ocasião das reformas arquitetônicas no prédio e da troca de empresários, principalmente em 1912, quando se transforma no Cinema-Theatro Alcazar e, em 1938, no amplamente conhecido e de saudosa memória, o querido Cine Guarany, derrubado em 1986. (Costa e Lobo, 1983).


A construção do Julieta estimulou o aparecimento de salas com programação contínua e permanente. O cinema que aí se instalou, em moldes empresariais modernos, acabou por aniquilar as empresas ambulantes. Dois nomes foram responsáveis pela renovação cinematográfica em Manaus nesse período: Carlos Alberto Toscano Batalha – com a Empresa Luso-Amazonense, gerenciou o Teatro Julieta e deu nova dinâmica aos espetáculos noturnos – e Raimundo Nonato da Silva Fontenelle. Este, em sociedade com seu irmão, criou a Empresa Fontenelle & Cia., em 1907, que se constituiu em verdadeiro truste da exibição cinematográfica até os anos 30, arrendando salas – Alcazar e Odeon – e construindo outras – Polytheama e Popular – que chegaram até os anos 80. De 1936 até 70, a Empresa Fontenelle dividiu seu império apenas com outra empresa, A. Bernardino & Cia Ltda.


A crise da borracha, com a baixa dos preços e a concorrência da Malásia, ainda não alterara o ritmo frenético da cidade. Novas casas de diversões foram aparecendo, dividindo com os cinemas os espetáculos noturnos. Em 1909, mais três salas fixas surgem: o Recreio Amazonense, o Cinema Avenida e o Teatro Alhambra.


O Teatro Alhambra, apesar de ostentar denominação já em desuso para uma sala cinematográfica, funcionou com todas as características de um moderno cinema, de dezembro de 1909 à metade de 1913. Exibiu filmes brasileiros e amazonenses e iniciou soirées infantis das 7 às 8 da noite.


Em 1912, apareceram quatro novas salas: o Cinema Rio Branco, o Polytheama, o Cinema Olympia e o Cinema Rio Negro. Em fevereiro de 1913, o Odeon., a “pérola” da Avenida, uma casa construída exclusivamente para cinema, pois nem palco possuía. Construção luxuosa, salões de espera artisticamente decorados, bares com buffet requintado, grandes orquestras, os novos cinemas são verdadeiros palácios dos sonhos! Destes, apenas o Julieta (Alcazar, depois Cine Guarany), o Polytheama e o Odeon conseguiram varar os tempos, bons e ruins, e chegar aos anos 70, gerenciados pela Empresa Fontenelle & Cia.


Na década de 20, além dos cinemas já consolidados, comercial e popularmente – Alcazar, Polytheama e Odeon – surgiram outras salas com presença marcante por longos anos, o Cine-Teatro Manaus, o Cine Popular e o Cine Glória. Em dezembro de 1921, criação dos padres salesianos, surge o primeiro cineclube da cidade, o Cine-Teatro Manaus, no Colégio Dom Bosco. Nos anos 40, o Cine Manaus é desativado, mas deixou o gosto pela sétima arte, pois nos anos 60 outro cineclube do colégio agitou a geração de jovens sob a direção de Márcio Souza, Djalma Limongi Batista e Felipe Lindoso.


O Cinema Popular, inaugurado em 1926, no Alto de Nazaré, foi o primeiro cinema fora do centro da cidade. O Popular chegou aos anos 70, transformou-se depois no Cine-Pop, exibindo filmes em 16 mm. Hoje é um prédio comercial. Em 1928, nova sala na periferia da cidade é criada, o Cine Glória, no bairro do mesmo nome. Tem projeção nos anos 50, quando exibe também filmes em 16mm. Fez concorrência ao Cine Íris, em 1929, no bairro de São Raimundo, que durou alguns meses. Nos anos 40, os padres holandeses da paróquia de São Raimundo arrendaram uma pequena sala da igreja à empresa exibidora A. Bernardino, que nela explorou o Cine Paroquial, por alguns anos. O número de cinemas em bairros foi crescendo no fim da década de 20. Apareceram, em 1928, o Ideal-Cine, no bairro dos Tócos (atual Aparecida), que fecha nos anos 70, o Cine Natureza, em 1927, e o Cine Amazonas, em 1929, ambos na Vila Municipal, com pouca duração.


A partir dos anos 40, novas salas são construídas, algumas luxuosas e que percorrem os anos; outras, mais simples e de pouca duração: o Cine Éden, em 1946, na rua Jônatas Pedrosa, ao lado da casa de Silvino Santos, que se transforma, nos anos 70, no belo Cine Veneza, e depois no Cine-Teatro Guarany, fechando em 1989. O Cine Vitória, em 1950, no bairro dos Educandos. Foi vendido em 1973 e transformado em supermercado. O Cine Ypiranga, em 1960, no bairro da Cachoeirinha. No final dos anos 70 era muito concorrido, visto os demais cinemas terem sido fechados. Em 1983 é vendido e atualmente é uma loja de eletrodomésticos. O Cine Palace, em 1966, no Boulevard Amazonas. Em junho de 1973 deixa de funcionar, é transformado em supermercado, hoje também fechado.


Em fins dos anos 80, pequenos empresários, cinéfilos apaixonados, criam várias salas que vão se fechando uma atrás da outra, não chegando ao novo milênio: Cinema 2 (depois Cine Cantinflas), Cinema Novo, CineQua Non, Cine Chaplin, Cine Oscarito, Cine Grande Otelo, Cine Carmem Miranda e Cine Renato Aragão. Surgem as pequenas salas em shopping centers. Hoje, são, ao todo, 32 salas de exibição em Manaus. O mesmo processo ocorreu em Belém, embora lá um movimento tenha conseguido a permanência do Cinema Olympia, o mais antigo do Brasil em funcionamento.


Primeiras produções


Nas primeiras décadas do século XX, a região foi percorrida por dezenas de exibidores ambulantes de empresas famosas como a Pathé-Frères e a Gaumont, que realizaram tomadas da selva e do cotidiano das cidades amazônicas, ao mesmo tempo em que estimularam o aparecimento de inúmeras salas fixas de projeção pelos rios do Acre, Roraima e Rondônia atuais. As filmagens por estrangeiros, membros de expedições e comissões científicas, culturais e econômicas, documentaram os trabalhos técnicos e captaram as primeiras imagens de povos indígenas, dos cursos dos grandes rios e das riquezas do hinterland amazônico.


Dentre esses pioneiros, encontramos, desde a década de 10, o major Thomaz Reis, integrante da Comissão Rondon e que, graças às imagens que captou em Mato Grosso e Rondônia, contribuiu decisivamente para uma melhor compreensão antropológica dos povos indígenas na região. Assim como ele, mas com características temáticas diferenciadas, aparecem ainda o espanhol Ramón de Baños, que registrou os principais acontecimentos políticos do estado paraense com sua produtora Pará Films, e o português Silvino Santos, cujas imagens do Amazonas fizeram ecoar pelo mundo afora os instantes de grandeza econômica pela qual passava Manaus, mas também deixou marcas sobre o universo natural e humano da vida do interior amazonense.


Nas três primeiras décadas, produtoras nacionais, como a Fan Films, de Líbero Luxardo e Alexandre Wulfes, realizam inúmeras filmagens na região, como A restauração do Pará e O círio de Nazaré no ano de 1934[3] e produzem inúmeros curtas-metragens, especificamente após a promulgação da lei de obrigatoriedade da exibição do complemento brasileiro nas sessões de cinema, a conhecida “lei dos 100 metros”, de 1932. (Ver Oliveira, 2004)


A produção amazonense tem início em outubro de 1907: Praça e igreja da Matriz, Praça de São Sebastião com a estátua e o Teatro, A procissão de N. S. de Conceição, Visita ao matadouro de Manáos, Obras da Manáos Harbour e A frente da intendência no dia da posse do Coronel Affonso de Carvalho. A produção foi significativa, se considerarmos as condições físicas, técnicas e culturais da região. De 1907, quando surgiram os anúncios das primeiras filmagens, até 1935, mais de vinte títulos, excluindo-se a produção de Silvino Santos e de estrangeiros, dão conta do objeto de interesse da câmera cinematográfica.


 A propaganda da região, seus rios, florestas, flora e fauna foram o objetivo das primeiras filmagens. Operadores da casa Raleigh & Robert, rivais de Pathé na França, vieram descobrir o rio das Amazonas, filmando, entre outros, De Belém a Manaus, A passagem da linha equatorial a bordo do vapor alemão Rio Negro e Uma viagem no Rio Amazonas, todos filmes naturais, exibidos em 1912.


Com a crise da borracha no mercado mundial, os empresários locais elaboraram projetos políticos e planos econômicos, e passaram, inclusive, a utilizar o cinema como meio de divulgação de seus interesses. Para isso, contaram com o apoio do governo de Alcântara Bacellar, que propôs, com empresários locais, em 1917, a criação de uma seção cinematográfica, a Amazônia Cine-Film, e contratou o pioneiro Silvino Santos como cinegrafista. A Amazônia Cine-Film transformou-se no porta-voz visual do governo e da classe empresarial ligada à Associação Comercial, da qual alguns sócios eram dirigentes. Elaborou a imagem de progresso e recuperação da economia da região em filmes de curta-metragem como O Horto Florestal, Festa da bandeira e Manaus e seus arredores.


O interesse da Amazônia Cine-Film, entretanto, era a realização de um longa-metragem que mostrasse “lá fora o que é este colosso amazônico em todos os seus pormenores e fazer a maior e melhor propaganda inteligente desta região”. (A Capital, 11.05.1918). O filme seria Amazonas, o Maior Rio do Mundo, idealizado e realizado por Silvino Santos, que levou dois anos percorrendo o território amazônico. O filme consumiu todo o capital da empresa e não chegou a ser exibido, pois os negativos foram roubados e levados para Londres, onde foram vendidos a empresas de turismo!


No rastro propagandista do governo seguiram as demais produções no Amazonas, tanto as da firma Asensi & Cia. como as de J. G. Araújo & Cia. Ltda. A primeira produziu o longa-metragem Ouro Branco, em 1918, trazendo o cinegrafista de Rondon, major Thomaz Reis, para filmar o Ji-Paraná e as imensas propriedades da empresa no rio Madeira. A firma J. G. Araújo, tendo Silvino Santos e Agesilau de Araújo como realizadores, documentou em mais de dez filmes as riquezas e potencialidades econômicas dos produtos extrativos e as possibilidades da região.


A propaganda foi o maior alvo do olhar cinematográfico amazonense ao ponto de praticamente impedir a realização de filmes de ficção. Mas estes existiram! Pouco expressivos e, ironicamente, também para propaganda ou “reclame” das produtoras cinematográficas, pois pretendiam mostrar a qualidade das imagens de suas máquinas e a habilidade técnica de seus operadores: Um Naufrágio à Força, Amores de Seu Romão com a sua Cara Metade (“film cômico amazonense de reclame…”), todos de 1916, mas sem a informação dos realizadores e das empresas que os produziram.


O gênero documentário prestou-se melhor aos interesses econômicos no Amazonas. A ficção exigia na época uma tradição de produção teatral e literária que não existia em Manaus. A região com seus encantos e mistérios parece ter sido por si só suficiente para alimentar a produção de filmes, sendo ela mesma uma ficção que, transposta para a tela, ampliava e desenvolvia seus mitos e ilusões. O desconhecido hinterland, os “exóticos” povos indígenas e o misterioso mundo selvagem eram capazes de criar no imaginário dos espectadores mundos de ilusões e fantasias, imagens surpreendentes, carregadas de magia e encantamento, que provocavam espanto e admiração, e levavam os espectadores a viajar por caminhos que a própria ficção não alcançava. Os filmes recriaram o mito do Eldorado e do Éden terrestre, ao mesmo tempo em que reforçavam imagens de um admirável mundo novo, um paraíso que se julgava perdido: “É aquele, certo, o novo Eden, se houve dois Edens na terra!… esse Eden existe e está até bem perto de nós… Esse paraíso terrestre fica situado no próprio território brasileiro e é o Amazonas!”, descobria, espantado e entusiasmado, o repórter de um jornal carioca, em 1923, após a exibição de No Paiz das Amazonas, de Silvino Santos.


Tal era a quantidade de imagens sobre o mundo interiorano amazônico que, ao ser exibido Manaus, Cidade Risonha, em 1926, produzido pelo jornal O Libertador, o repórter local, aliviado, comentava:


“Não é só jacarés e pirarucus, balateiros e seringueiros. É tudo que a civilização pode exigir, por mais exigente que ela seja. Repertório minucioso de tudo que Manaus tem de mais chic e útil, o que qualquer cidade modelo deve ou possa ter… o fausto de nossa elite bela … o foot-ball e o turf … Visto em qualquer parte do mundo, coloca-nos em relevo que deve ter a capital do Estado longínquo do extremo-norte, tão injustiçado pelos que o conhecem através de informações dos que chegam, contando aventuras e se dizendo ‘heróis’ por terem voltado sãos e salvos, como se fossem exploradores de ínvios desertos, povoados de feras…”.


A Peia, 16.05.1926.


Se a ficção não esteve nos objetivos dos empresários amazonenses, não escapou, entretanto, ao interesse dos produtores estrangeiros. A Amazônia e seu estranho mundo foram motivo de vários filmes realizados em estúdios norte-americanos: monstros pré-históricos, aventuras inacreditáveis, caçadas perigosas, formigas, aranhas e piranhas gigantes, índios canibais e estranhas pirâmides escondendo os tesouros do rei Salomão, e até ardentes romances, tiveram como cenário imaginário as terras tropicais ao norte do Brasil. O cinema foi o criador e divulgador dos mais loucos e absurdos mitos sobre a Amazônia.


Pioneirismo


Silvino Santos é considerado e reconhecido como o cineasta pioneiro do documentarismo no Amazonas. Nascido em Portugal em 1886, chegou a Belém em 1899, transferindo-se, em 1910, para Manaus. Começou trabalhando como fotógrafo, mas logo foi atraído pelo cinema ao ser convidado por Julio Cezar Arana, um dos maiores acionistas da Peruvian Amazon Rubber Company, acusado de promover massacres contra povos indígenas no rio Putumayo, região fronteiriça do Peru com o Brasil. Interessava a Arana produzir material comprobatório de sua defesa e que mostrasse a sua “verdade” e para isto prestava-se a novidade do cinema, pois mostrava a “realidade em movimento”. Silvino, ao aceitar o convite, não só estaria dando um passo decisivo na direção de sua trilha “profissional” mas também sentimental.


Primeiro, para filmar os interesses de Arana, foi enviado a Paris para aprender a utilizar a nova tecnologia, vindo a estagiar exatamente nos estúdios da Pathé-Frères e nos laboratórios dos irmãos Lumière. Segundo, porque, ao viajar para o Peru, conheceu a filha tutelada de Arana, Ana Maria Schermuly, por quem se apaixonou e com quem se casou em 1913. Silvino Santos filma os seringais de Arana e as populações indígenas que neles trabalhavam no rio Putumayo, e o filme se prestaria aos objetivos do seringalista caso não ocorresse um acidente com o navio que transportava os negativos que iam ser copiados nos Estados Unidos. O naufrágio põe fim à sua aventura peruana.


Transfere-se para Manaus, quando vai trabalhar com o comerciante Manoel Gonçalves, da Amazônia Cine Film, e realiza alguns documentários e o seu segundo longa-metragem inacabado, Amazonas, o Maior Rio do Mundo. Inacabado, porque novamente o azar se coloca no caminho de Silvino: os negativos são roubados pelo noivo da filha de um dos empresários da produção, Avelino Cardoso, deixando o cineasta em difícil situação financeira. O material cinematográfico da firma falida é arrematado pelo Comendador Joaquim Gonçalves de Araújo e este reorganiza a produção de cinema da época. Silvino Santos é chamado para trabalhar com ele e ali conhece o sucesso.


Em 1921 realiza No Paiz das Amazonas, filme de rara beleza fotográfica e originalmente preparado para ser lançado na Exposição Comemorativa do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro, no ano seguinte. No entanto, ele é exibido também no Cinema Pathé, do Boulevard des Italiens, em Paris, e nos principais centros europeus. No Rio de Janeiro, em 1922, Silvino filma a Exposição e, com esse material, produz Terra Encantada, cujos fragmentos hoje são capazes de indicar a beleza, o potencial e outros aspectos da capital federal. Em 1924/25 realizou No Rastro do Eldorado, documentário sobre a expedição de Alexander Hamilton Rice, onde foi efetuada a primeira tomada aérea no Brasil. Entre 1925 e 1927, acompanhando a família Araújo a Portugal, produziu Terra Portuguesa, focalizando aspectos daquele país.


Quando, nos anos 30, tanto a atividade comercial como a de produção cinematográfica começaram a definhar, Silvino fazia apenas curtas-metragens sobre aspectos de interesse da família Araújo e da sociedade manauara, alguns deles exibidos na Fábrica de Cerveja e Gelo de Miranda Corrêa e Cia., para onde afluía a elite da sociedade amazonense. Depois de toda uma vida no Amazonas, ligado ao empresário J. G. Araújo, Silvino faleceu em Manaus, em 1970, após ser “redescoberto” por cineclubistas e homenageado no I Festival Norte de Cinema Brasileiro, em 1969.


Declínio


Com o surgimento da I Guerra na Europa, a Amazônia perde definitivamente o mercado internacional da borracha. O sonho havia acabado… As ilusões do Eldorado começam a ser encaixotadas com os bens salvos milagrosamente pelas famílias, que corriam para o cais, abandonando a região. Os que ficaram encolheram-se em sua impotência e se refugiaram no sonho do passado. O imaginário transformou-se no único espaço possível. A realidade cotidiana irreversivelmente seguiu seu curso, sem conseguir, entretanto, abafar totalmente as ilusões. As “atualidades cinematográficas” desenvolveram-se e o público, ansioso, acompanhava nas salas escuras dos cinemas o desenrolar dos acontecimentos. Dessa forma, as atenções se desviaram para fora da região. A partir de 1918, o cinema americano invade Manaus com seus filmes de bang-bang, entusiasmando plateias juvenis. Assim foi a década de 20, dominada pelo cinema americano e pelas superproduções da UFA, a poderosa produtora do Reich. Pouco espaço sobrou para a tímida produção local, exceção feita a No Paiz das Amazonas, de Silvino Santos, que teve sucesso local e nacional. Contudo, proliferaram as casas exibidoras.


O cinema em Manaus constituiu-se ao longo do período belle époque em elemento lúdico, empreendimento comercial e componente criador do imaginário coletivo. De simples divertimento, ingênuo e artesanal, os filmes transformaram-se gradativamente em mercadorias rendosas do poderoso comércio exibidor. Cafés, confeitarias e pequenos teatros de variedades cederam seus espaços a luxuosas salas, e o público foi transportado para o mundo encantado da tela.



   

Fonte de Pesquisa

CPCB.ORG

Texto da obra O Cinema na Amazônia & a Amazônia no Cinema, por Selda Vale da Costa e Antônio José da Costa




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quarta-feira, 19 de abril de 2023

ACA - Associação Comercial do Amazonas

 O ano de 1871 marca a fundação da Associação Comercial do Amazonas, quando a província mal contava vinte anos de existência, após séculos sob o jugo do Pará e Manaus com seus exíguos 17.000 habitantes ia conquistando sua celebridade como Centro do Sertão Amazônico com florescente comércio de apoio às lidas interioranas, concentradas na produção da borracha.




A abertura à navegação estrangeira do Rio Amazonas estimulava a navegação fluvial, existindo a par da Cia. Paraense de Navegação a do nosso associado ilustre Alexandre Amorim, futuro comendador, que a partir de 1874, estenderia sua linha até a Europa.


Fizeram parte da primeira diretoria José Coelho de Miranda Leão, político, comerciante e militar ilustre, celebrado na história como vencedor dos cabanos e como primeiro presidente desta Entidade; Antônio Augusto Alves foi o Secretário e José Joaquim Pinto de França, o Tesoureiro; Completavam a primeira diretoria; Manoel José Gomes de Lima e Emílio Moreira, que com seus irmãos José e Guilherme Moreira, Presidente da Entidade de 1877 a 1880, mereceram dos pósteros nomes nas ruas da cidade.


Segundo os subsídios renascentes, as reuniões preliminares tiveram lugar na residência do comerciante José Teixeira de Souza, grande comerciante, cujo Armazém Teixeira sobreviveria até época recente e foi ocupado pela Petrobrás em apoio as atividades em Nova Olinda. A primeira Sede, que se tem notícia, situava-se na esquina da Rua das Flores (atual Guilherme Moreira) com a Travessa da Glória (atual Quintino Bocaiúva). Desde essa remota data, a Associação, órgão pioneiro do empresariado amazonense, exerce sua função primordial de reivindicar e incentivar a economia, em benefício de quantos mourejam no comércio, na indústria e em todas as atividades deste vale. Provavelmente, o primeiro pleito seja o de 25 de novembro de 1871, desobrigando a navegação local da prioridade de carga para Iquitos, dirigido ao General José de Miranda da Silva Reis, Presidente da Província e ex-combatente da Guerra do Paraguai. A 10 de junho de 1872, foi pedido ao Congresso um benefício fiscal para o Amazonas de isenção de direitos sobre mercadorias estrangeiras; Em 18 de abril de 1873, pede melhor critério na formação da pauta de mercadorias, base de incidência de impostos e no dia 24 do mesmo, fez agradecimento elogioso louvando o comportamento do Inspetor da Tesouraria Geral da Província. Pleito semelhante seria feito em 1877. Em Iº de julho de 1873, consta pedido de prorrogação dos impostos dos comerciantes de Serpa (Itacoatiara). Em 1877 foi feita reclamação contra lei paraense, que tributava o pirarucu e a cachaça vendida para o Amazonas. Em 1879 foi conseguida redução de impostos e proposto voto de agradecimento e louvor à Assembléia Provincial, por Alexandre Amorim. Em 1878 protesta contra subvenção à Amazon River em detrimento das demais empresas de navegação. Em 11 de dezembro de 1879 insurge-se contra a demora do Serviço Postal. Os Estatutos e respectivas alterações para os devidos efeitos eram submetidos à aprovação das autoridades e do próprio imperador, conforme mostra despacho de 12 de julho de 1880.


José Coelho de Miranda Leão, João José de Freitas Guimarães e Guilherme Moreira foram os presidentes de 1871 a 1880 iniciando a longa e fulgurante caminhada de sucesso e de realizações desta augusta Instituição.


Era do maior relevo deste período a perfeita sintonia entre a direção da Casa e os Presidentes da Província, apenas com a exceção de Sátiro de Oliveira Dias dissentindo de atos da direção.


Em 1881 eram solicitadas a criação de um Banco e a construção de Trapiche em apoio à exportação, que desempenhava um valor crescente. Em 5 de janeiro de 1884 era solicitado ao Imperador facilidade nos despachos de importação já vigentes no Rio Grande do Sul. Em 1888 a Província do Amazonas sofria crise sem procedentes, como reflexo no escasseamento das reservas brasileiras, atingindo de forma alarmante a subsistência da economia. A 12 de dezembro de 1888 era pedido um prazo de 20 dias, mediante assinatura de letras, nos direitos de exportação vencíveis nos três meses seguintes. Em 20 de setembro de 1889 pede providências urgentes para regularização das dívidas da Província ao funcionalismo e aos fornecedores. Proclamada a República, de imediato procurou a Junta Provisória, fazendo pleitos e emitindo pareceres e informações sobre o ponto de vista comercial nos assuntos em lide. Em 28 de novembro de 1889, declara à Junta Provisória que a mudança do regime em nada alcançaria as atividades comerciais.


Adolpho Gotteschals, James Baird, A. H. de La Baume e Arthur Johnston foram os presidentes do período.


Na última década do século, apesar das comoções políticas do centro do poder com revolta e punições, a economia do Estado se refazia com o aumento dos negócios, proporcionados pela borracha e Manaus resplandecia sob o governo de Eduardo Ribeiro.


Em 14 de dezembro de 1891 era criada na própria sede da Associação Comercial a Junta Comercial do Amazonas, cujo primeiro presidente foi José Ferreira Freitas Pedroza. Uma comissão da Associação, nomeada pelo Governador Thaumaturgo de Azevedo estuda meios para reduzir os fretes da Red Cross Line, concessionária da navegação entre o Amazonas e a Europa. Em 30 de novembro de 1893 se insurge contra a tributação das companhias de seguros, que encarecia o frete para o interior. A mesma medida seria tomada contra a selagem de documentos. Em 1897 surgiu mais uma companhia de navegação com linha para Génova – Itália, a A. Fioreta & Cia. Em 30 de novembro de 1897 define para o Governo a instalação de trapiches e facilidades portuárias. A 10 de janeiro de 1899 a Associação instala na própria sede o telégrafo ligando-a ao mundo inteiro. Em 20 de dezembro de 1900 abre subscrição para os flagelados da seca do Ceará.


Foram últimos presidentes no século, Armindo R. da Fonseca, Caetano Monteiro da Silva e José Cláudio de Mesquita.


1900 – 1950



A primeira década do século seguinte é caracterizada pelo ciclo da borracha de fastígio e progresso no Estado, realizando em Manaus o Congresso da Agricultura e exposições no Brasil e no Exterior. Em 1902 a exposição da Philadelfia, nos Estados Unidos, a de São Luís em 1904 e Rio de Janeiro, Nova Iorque e Londres em 1908. Em 1910 realizou o Congresso Comercial, Industrial e Agrícola.


Em 1903 recorreu às autoridades militares para fazer cessar conflito entre seringueiros peruanos e brasileiros na boca do rio Chandless. A Associação conseguiu que a borracha fosse beneficiada em Manaus. A 5 de julho de 1908 é lançada a Revista da ACA com vida longa e que tantos serviços prestou ao empresariado.


Presidiram a Associação no período os comerciantes Maximino José da Mota, Hanibal Porto, Joaquim Nunes de Lima, Francisco Luiz Pereira e Waldemar Sholz. A década seguinte marca os efeitos da concorrência da borracha asiática, provocando exaustivos estudos e providências estaduais e federais para conter a ameaça, que se avizinhava. Em 1912 reuniam-se os amadores em face do Regulamento da Capitania dos Portos.


Em 1914 foi feita Exposição de Londres e realizado o Seringal Miri, que perdurou até a nossa época, como obra de José Cláudio de Mesquita, emérito defensor da borracha. No período, os preços da borracha despencaram, provocando inúmeras falências, a Associação pedia constantemente que as autoridades ministrassem remédios salvadores, o êxodo rural invadia as cidades de tal sorte que o governo concedia passagem gratuita no Loide Brasileiro. Eclodiu a primeira guerra mundial, foi fundado o primeiro Banco do Amazonas, integrado com diretores da Casa, dirigido por José Cláudio Mesquita. A Associação recomendou a compra da sede dos Correios, que antes pertencia a Marius & Levy. Joaquim Gonçalves de Araújo instala o Museu da Associação. Para tão relevantes serviços os exportadores contribuíam para a Associação com 2 réis, passando a 5 réis por quilo de borracha exportada. Foi pedida a isenção de impostos a que estavam sujeitos os caixeiros viajantes. Foi solicitada a canalização dos rios do Acre. Pelo Decreto 3.333, Wenceslau Braz considera a nossa Associação de utilidade pública. Funda-se em 1912 a Federação das Associações Comerciais. Solicitada à União uma rede de comunicações em Manaus. Apoio à Câmara de Comércio de Londres para evitar a guerra, mediante arbitragem. Pedida a instalação de armazéns gerais. Presidiram a Casa Emílio Zarges, S.H. Sanford, Joaquim Gonçalves de Araújo, M. S. Gordon, Luiz Eduardo Rodrigues e Augusto Cezar Fernandes.

A década dos vinte se engolfou em desabalada crise pelo fim da guerra e a epidemia da “influenza”, mas ainda desta vez é a Associação uma Fénix renascida, criando inúmeras indústrias e promovendo a exportação de chicle, extraído da abiurana. Surgiam fábricas de açúcar e de aguardente, a fabricação de saltos Coroa e outros artefatos de borracha. Ao revés perdíamos o serviço de navegação, transferido para Belém. Produzíamos a primeira longa metragem do Cinéfilo Silvino Santos, financiado por J. G. Araújo. Participamos da Exposição Ibero-Amerícana de Sevilha e em Paris da 7ª Exposição Internacional da Borracha. Recebemos em nossa Sede o Presidente Nilo Peçanha. Em 1927 é fundado o Banco Popular de Manaus. Em 1928 chegam a Manaus os primeiros imigrantes japoneses instalados em Parintins, dando origem à Vila Amazónia e a produção de juta. Presidiram a Associação Joaquim Carneiro da Motta, Joaquim Gonçalves de Araújo, José Mendes Filho e Aluízio de Araújo.


A década dos 30 foi a continuação da queda da borracha, primeiro pelo aviltamento dos preços e agora com a consequente queda da produção, agravada pela Revolução de 30 e medidas punitivas como a proibição da produção de açúcar. Como fator favorável contamos agora com a competência de Cosme Ferreira Filho, dedicado Secretário Executivo e ilustre amazonólogo. Pleito de redução dos fretes da Amazon River para viabilizar a produção regional. Promoção do Timbó, como interesse comercial de exportação. Criação do Comércio do Guaraná, Pedido de favores no embarque de juta e waicima. Reuniões de estudo e apoio à defesa da castanha, Doação à 8ª Região Militar de castanha, destinada a introduzi-la na alimentação dos soldados. Pleitos de medidas para apoio e manutenção do transporte fluvial. Instalação de uma fábrica de beneficiamento de cereais na rua dos Andradas. Instalação de escritórios de representação no Rio, em Belém e em São Paulo. Exposições a bordo do navio Almirante Jaceguay, em Vitória, em São Paulo e em Barcelona. Participação nas Feiras de Viena, Marselha, Baia Blanca e São Leopoldo. Em 1932 pleiteou a instalação de um Vice-Consulado dos Estados Unidos em Manaus. O Governador Waldemar Pedrosa por decreto assegura os recursos financeiros para a Associação. A 21 de abril de 1939 é lançada a pedra fundamental da nossa sede, empreendida durante a presidência de José Nunes de Lima, projeto do ex-presidente, engenheiro Aluízio de Araújo.


Foram presidentes no decênio: Aluízio de Araújo, George Weffner, Augusto César Fernandes, Joaquim Carneiro da Motta e José Nunes de Lima. No decênio a Região sentia o reflexo da Segunda Guerra Mundial com a invasão das forças americanas em busca de borracha, foi construído o aeroporto de Ponta Pelada e intensificado o tráfego aéreo com diminuição da cabotagem com falta de combustíveis, trigo e outros gêneros de primeira necessidade. O acordo de Washington, mantido em segredo trocou a indústria siderúrgica por preços vis de nossa borracha para cuja produção vinham ondas sucessivas de nordestinos. À época, a Associação mantinha representação em 29 cidades do interior amazônico. A Casa mantinha um serviço de assistência à agricultura. Por iniciativa de Cosme Ferreira Filho foi apresentado no Congresso projeto que criava a Estação Experimental do Guaraná, em Maués. Pelo Decreto 12.312, de 27 de abril de 1943, o Governo da República concedeu a prerrogativa de órgão consultor da União. Em 1948 realizamos a Segunda Conferência Nacional da Borracha.


Presidiram a Entidade no decênio: José Nunes de Lima, Bartolomeu Pessoa Guimarães, Waldemar Pinheiro de Souza e Jayme Bittancourt de Araújo.


1900 – atualidade



Terminada a guerra, quando a Amazônia era disputada como fornecedora de borracha, paulatinamente foi caindo no esquecimento anterior. O Governador Plínio Ramos Coelho, retirou o subsídio, de que gozava a Associação, o que obrigou a extinguir os vários serviços prestados para adequar as despesas aos recursos atuais. Entretanto empresários autênticos construíam o sonho de realização. Assim foi que surgiam a Brasil Juta, a Refinaria de Manaus e a Cia. de Eletricidade de Manaus, que encerram um longo período de escuridão. Foi pedido o reaparelhamento do Porto de Manaus, que se mostrava inadequado ao aumento das operações. Pedido ao Presidente da República a implantação do Plano de Valorização da Amazônia.


Assumiram a presidência: Ermindo Fernandes Barbosa, Jayme Bittancourt de Araújo, Isaac Benayon Sabbá e Jacob Paulo Levy Benoliel.




No decénio de 1960 à 1970 a presidência foi ocupada por Jacob Paulo Levy Benoliel, na mais longa gestão de sua história e por Mário Expedito Neves Guerreiro. Indubitavelmente a Revolução de 1964 teve benéficos reflexos na economia regional não só com a criação da Zona Franca de Manaus, mas também com o volume de obras e realizações nunca repetidas após a redemocratização. Assim foi construído o aeroporto Eduardo Gomes, a Estrada Manaus – Caracaraí, criada a Universidade do Amazonas, iniciada a Perimetral Norte abandonada posteriormente. Criado o Comando Militar da Amazônia, o Comando da Aeronáutica, a Base Naval, a instalação da SUFRAMA, do Distrito Industrial, do Distrito Agropecuário, a Transamazônica hoje abandonada. Um serviço de telecomunicações de alta tecnologia para a época e muitas outras vantagens já hoje esmaecidas na memória.


Tudo isso porém, aumentava o trabalho e a responsabilidade do empresariado, que se segmentou criando novas entidades especializadas, a maioria saída da entidade-mãe, que continua a defender os interesses de todos indistintamente, inclusive os da comunidade. Foram elevados os Pleitos, os estudos, a luta pela defesa da Zona Franca de Manaus, desde o nascedouro, atacada por seus inimigos, por inveja e por inconformismo de não participar de um plano, que deu certo. A questão fiscal nos três níveis de governo exige um esforço de vigilância indormida, digna de grandes titãs, que formam a vanguarda do empresariado. A crescente produção de juta chegou a 34.800 toneladas em 1970 para um total nacional de 71.000.




   

Fonte de Pesquisa

ACESSORIA DE IMPRENSA DA ACA



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segunda-feira, 17 de abril de 2023

Bar Patrícia, o primeiro reduto LGBTQIAP+ de Manaus

 Bar Patrícia, o primeiro reduto LGBTQIAP+ de Manaus nos anos 70

O espaço ficava em um prédio com um amplo salão decorado pelo artista Roberto Carreira e serviu como ponto de encontro e refúgio da comunidade LGBTQIAP+ da capital amazonense.


Localizado na Avenida Constantino Nery, quase esquina com a Avenida Darcy Vargas, estava o bar Patrícia, o primeiro reduto LGBTQIAP+ de Manaus (AM). Antes disso, a comunidade LGBTQIAP+ precisava se encontrar em lugares públicos como praças e avenidas da cidade, entre elas: Praça da Polícia, Avenida Eduardo Ribeiro, Praça da Matriz, Avenida 7 de Setembro, entre outras.


Comandado pelo boliviano Alonso Puertas, o bar Patrícia abriu as portas na década de 70, o reduto abria as portas de 18h às 4h30 da madrugada. O espaço ficava em um prédio com um amplo salão decorado pelo artista Roberto Carreira. O nome Patrícia foi em homenagem à sobrinha do proprietário.


No livro 'Um Bar Chamado Patrícia', o estilista Bosco Fonseca relata suas histórias no famoso bar voltado ao público LGBTQIAP+ de Manaus nos anos 70.


Primeira Rainha Gay 


Na publicação, Fonseca lembra com carinho sobre o tempo em que frequentou o bar 'Patrícia'. Ele e seus amigos da época, Joaquim Dantas e Flavio Martins, conheceram o decorador Roberto Carreira, que era figura marcante na sociedade manauara da época.


Certo dia, eles sugeriram para Carreira que o bar sediasse o primeiro concurso de fantasias com a escolha da Rainha Gay do Carnaval, que, até o momento, era feita de maneira clandestina e, às vezes, acabava chamando a atenção dos policiais que levavam os participantes para a delegacia.


Em 1973, a cidade de Manaus recebeu o primeiro Baile Gay, que estava com todas as licenças autorizadas. O evento foi denominado 'Noite dos Andrógenos', sob a coordenação de Roberto Carreira. Toda a sociedade marcou presença na festa, que coroou Bosco Fonseca, também conhecido como "Arroz", como a primeira Rainha Gay.


A partir daquele momento, o Patrícia adquiriu um novo formato para a comunidade GLS, atual, LGBTQIAP+, que marcava presença em todas as festas, incluindo nos dias de jogos entre o Nacional e Rio Negro, no estádio recém-inaugurado em 5 de abril de 1970, Vivaldo Lima.


Outros eventos foram realizados no local, como: Miss Amazonas Gay, Miss Brasil Gay, Dez Mais Elegantes e Miss Caipira Gay. Uma boate foi montada para a realização de shows de transformistas, dentre elas, a 'La Miranda', que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, que integrava o show na boate Cabaré Casanova. Com esse conhecimento foram montados os shows do 'Patrícia'.


Depois de 1973, surgiu o Madeira, funcionário do Tribunal Eleitoral que assumiu a função de relações públicas do Patrícia. Foi quando novos adeptos começaram a frequentar o local, em especial os garotos da cidade. Quando o espaço passou a alugar quartos para os casais de amantes, as coisas ficaram mais complicadas junto à justiça.




Em 1979, o bar Patrícia fechou as portas em definitivo por motivos pessoais do proprietário. Segundo os depoimentos, o bar deixou um vazio na comunidade LGBTQIAP+ e frequentadores. 


Outros detalhes sobre o movimento nesta época estão reunidos no livro 'Um bar chamado Patrícia - Relatos do início do movimento gay em Manaus', do estilista Bosco Fonseca. O livro foi lançado em dezembro de 2022.


   

Fonte de Pesquisa

PORTAL AMAZÔNIA

Livro 'Um bar chamado Patrícia - Relatos do início do movimento gay em Manaus'












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