sexta-feira, 10 de março de 2023

VIOLETA MENESCAL



Violeta Branca Menescal de Vasconcelos nasceu em Manaus, no dia 15 de setembro de 1915 e faleceu no Rio de Janeiro, em 7 de outubro de 2000. Ocuparam-se de sua obra, dentre outros, Genesino Braga, Tenório Telles e Marcos Frederico Krüger, tendo merecido , de Almir Diniz, em seu livro Mulheres, a homenagem de um soneto intitulado Canto de Liberdade. 

Não são poucas, contudo, as homenagens que ela tem recebido no decorrer destes últimos dez anos, destacando-se, para estudo e consulta, Violeta Branca (O poetismo de vanguarda), ensaio e documentário de Carmen Novoa Silva, de quem foi amiga até a data de seu trespasse. Vale a pena reler este livro, no qual, também, comparece uma transcrição da Antologia Poética da Mulher Amazonense, do escritor Danilo Du Silvan, editada em 1984. 



Embora sem os recursos formais de Cecília Meireles, nem, também, sua profundidade conceitual diante do mundo, Violeta Branca, afinal, segundo Tenório Telles, pertence à primeira fase do modernismo. ¨Seu discurso poético é fluido, despojado de qualquer pretensão acadêmica¨, conclui esse mestre. Feminina, inclusive, não nos parece, em nenhum momento, preocupada com o gênero de sua própria  inquietação lírica ou existencial, enfatizando, sobretudo, a monumentalidade interior que se apressa a fazer de seu canto um jornal de surdinas e confidências, algumas vezes pueris, mas sempre como se estivesse entre árvores e pássaros. 

 



BRANCA, Violeta.  Reencontro -  poemas de ontem e de hoje.  2ª. edição.  Manaus, AM: Academia Amazonense de Letras; Edições Governo do Estado do Amazonas – Secretaria de Estado da Cultura, 2012.  146 p. (Série Violeta Branca, v. 8)  15x21 cm.  ISBN 978-85-64218-29-1  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Francisco Marques de Vasconcelos Filho.



NOTÍCIAS


Vento que vens de longe

nas horas de maré alta,

vento que nunca trazes

notícias de quem me falta.

Vento que já passaste

entre veleiros nos portos,

em ti só escuto as palavras

de saudade dos meus mortos.

Vento de mãos abertas

abrindo as salas desertas

onde guardo o meu sossego,

leva contigo essa angústia

que ame atormenta e exalta

mais o desejo e o apego

que tenho por quem me falta.


 


CLARINADA


É impossível prolongar o êxtase e viver,

pois o instinto explode num clarão

e a plenitude do amor é quase morte

no milagre total da integração.

Partem-se as correntes, as dúvidas, os medos

no sentimento exato.

E enquanto vão surgindo clarinadas e auroras

nos momentos de encantos insuspeitos

eu, consciente e mágica desato

os laços que me prendem aos preconceitos.


 


LIMITAÇÃO


É limitado o espaço:

quatro paredes de vidro,

peixes perdidos no aquário

vendo paisagens de aço

e caminhos não concluídos,

pois o tempo é secundário.

Lá fora vozes jeitantes

proclamam lutas, renúncias.

Sou um peixe do aquário,

meu corpo afunda na água

entre mil pedras cortantes,

por isso não escuto as minúcias

do que dizem os apelantes

cheios de ódio e de mágoa.

Bendigo as quatro paredes

que me defendem dos gritos.

Faço parte dos aflitos

mas sou impotente aos apelos

porque no aquário em que vivo

os problemas e os atritos

jamais poderei resolvê-los.


 


O LEQUE


Feito de sândalo e rendas tenho o leque

que pertenceu à minha tetravó

foi sempre guardado com carinho,

talvez por isso o tempo

não o tinha transformado em pó.

Com ele e moça índia

— que tinha também sangue francês —

escondera na certa o riso puro

faceira junto ao noivo português.

Mas quem saberá se nas horas de enlevo

quando mais alto lhe falava a origem

de filha da terra manauara,

em vez do leque requintado,

não quiser a ventarola simples

feita de palha e penas coloridas

para ao calor da noite perfumada e clara

abanar em silêncio o bem-amado.


 


MEU DOGMA


Não abro mão do que quero,

nem fujo do terno enleio

das coisas que eu tolero

no mundo de onde leio

nos astros a afirmação

das minhas ânsias insofridas,

e vejo a continuação

da minha vida em outras vidas.

Não me afasto do esquema

que o meu ser vertical semeia.

Morro sempre num poema,

ressurjo com a lua cheia,

uso símbolos e pertenço

a um ritual que tonteia

os que não têm força nem senso

para transpor o infinito.


 


BRANCA, Violeta.  Ritmos de inquieta alegria.  Organização e estudo crítico Tenório Telles. 2ª. edição, revista e aumentada.  Manaus, AM: Editora Valer, 1997.  116 p.  (Série Coleção Resgate, 1)  14x21 cm.  Capa: Álvaro Marques.  Foto: Leonide  Principe.  Apresentação de Marcos-Frederico Krüger.  ISBN 85-86512-02-8  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação família de Francisco Vasconcelos.


 


DOIS "TANKAS" DE MINHA TERRA


I       


Nos poemas que ora escrevo

não há, como outrora,

a suavidade de um enlevo...

São ardentes, tropicais:

têm o cheiro de terra molhada

e o gosto das frutas maduras...


São versos saídos d´água

como a Iara

e embrenhados pelas matas escuras...

E sabem você, por que eles são, agora, assim?

É que os dias estão cheios de sol,

e o sol se desfez em entusiasmo dentro de mim...


 


II


Eu quiser ter os braços muito longos,

mais longos que as palmeiras esguias destas zonas,

maiores que as cobras grandes,

maiores, até, que os rios

que retalham o Amazonas...

E assim abraçar e apertar

contra o meu peito,

toda inteira, a minha terra,

e guardar para mim, só para mim,

a poesia das lendas que ela encerra...


 


VITÓRIAS-RÉGIAS


 As minhas mãos são vitórias-régias diminutas,

onde o sol vem dormir

quando o céu se enche de estrelas.

E é por isso que sou branca,

mais branca do que as praias e que  a lua..

E tenho esse desejo insaciável de luz,

sempre luz

de tanta luz, que me obrigue a cerrar

os olhos curiosos

que têm os mesmos fulgores das minhas manhãs claras

sobre as águas espelhantes dos igapós

na pátria das iaras...


   

Fonte de Pesquisa

BLOG ANTÔNIO MIRANDA

FACETAS CULTURAIS












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