Largo São Sebastião, em Manaus, inspirou o famoso calçadão de Copacabana no Rio de Janeiro | Por Marcus Pessoa
Toda vez que alguém fala que o Largo São Sebastião foi inspirado no Calçadão de Copacabana, é necessário que coloquemos os pingos nos is. Muitas das vezes as pessoas que falam isso, não falam por maldade, mas por falta do conhecimento (normal, eu também não sabia disso antes de pesquisar o assunto).
É preciso esclarecer que durante o auge do ciclo econômico da borracha, Manaus se transformou em uma cidade moderna, com as mesmas benfeitorias que chegavam ao Rio de Janeiro, a então capital federal.
Entre as benfeitorias, a calçada portuguesa que compõe o Largo São Sebastião. Em Lisboa, capital de Portugal, existe um piso semelhante que decora há séculos a Praça de D. Pedro IV, mais conhecida como Praça do Rossio. Seu desenho foi escolhido para homenagear o encontro das águas doces do Rio Tejo com o Oceano Atlântico.
Essa mesma conotação é aplicada à Manaus, simbolizando o encontro dos rios Negro e Solimões. No Rio de Janeiro, a história é que a calçada de Copacabana faz referência às ondas do mar.
O calçadão da orla da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, foi inaugurado em 1905, portanto quatro anos depois do pavimento manauara. Nos dois casos foram usados ladrilhos portugueses.
Os desenhos eram diferentes, porém, na década de 1920, as águas do mar invadiram a orla e a calçada carioca foi destruída. Assim, o passeio foi reformado e redecorado, seguindo o modelo amazonense
Em Manaus, a calçada do Largo São Sebastião foi finalizada em 1901, mas já estava planejada desde a década de 1880.
Pois bem, agora vamos aos fatos históricos, a partir do crescimento do "ouro branco" da Amazônia, a borracha. A Praça de São Sebastião possui mais de 3.478,04 m² de ladrilhos com desenho que lembra o vai e vem do encontro das águas barrentas do Rio Solimões com o morno Rio Negro.
De acordo com a obra 'Entidades e Monumentos do Amazonas', de Gaitano Antonaccio, o granito em preto e branco começou a ser projetado em 1867, cerca de 17 anos antes do assentamento da pedra fundamental do Teatro Amazonas (em 1884). Os granitos europeus chegaram na época em que Manaus estava no auge da produção da borracha, no final do século XIX, onde ganhava contornos da arquitetura europeia, financiados pelos grandes empresários da borracha. Tanto que passou a ser conhecida como a "Paris dos Trópicos".
Na obra 'História do Monumento da Praça São Sebastião', do historiador Mário Ypiranga, há um capítulo totalmente dedicado ao que ele batizou como o "Calçamento Ornamental" da praça. Das páginas 42 a 44, Ypiranga explica que o contrato de execução do serviço do calçamento foi publicado no Diário Oficial de 29 de outubro de 1899, assinado por Antônio Augusto Duarte.
O Calçamento com paralelepípedos de granito, fornecidos pelo governo, ficou orçado em seis mil réis o metro quadrado e seria colocado no centro da praça, assim como nas ruas José Clemente, 10 de Julho e entre a Avenida Eduardo Ribeiro e a praça São Sebastião.
Já o Calçadão de Copacabana é composto de pedras portuguesas pretas, brancas e vermelhas, importadas de Portugal. O desenho das ondas foi criado pelo engenheiro Pinheiro Furtado, em Portugal, no início do século XIX para o largo do Rossio de Lisboa.
Historiadores modernos apontam que o calçamento da praça foi entregue em 1901, dois anos após o contrato de execução do serviço do calçamento ter sido publicado no Diário Oficial de 29 de outubro de 1899.
Essa data é confirmada na segunda edição do livro 'Entidades e Monumentos do Amazonas', onde o escritor Gaitano Antonaccio defende o estudo feito pelo historiador Genesino Braga, na obra 'Chão e Graça de Manaus de 1982'.
Gaetano afirma que, a partir do estudo feito por Braga, o piso implantado no chão da praça São Sebastião foi colocado antes do calçadão de Copacabana. Para Genesino, as ondulações construídas com o granito preto e branco simbolizam o "Encontro das Águas" e não o mar que banha as praias cariocas.
De acordo com as datas, o Calçadão de Copacabana surgiu em 1905, portanto quatro anos depois do pavimento manauara. No início, os desenhos eram diferentes, com uma faixa muito estreita onde o desenho corria de forma perpendicular ao mar. Porém, na década de 1920, as águas do mar invadiram a orla e a calçada carioca foi destruída. Assim, eles reconstruíram um novo passeio nos anos 30 e dessa vez seguindo o modelo amazonense. As calçadas também tiveram sua orientação alterada e passaram a ser paralelas ao mar.
O artista e doutor em História Social, Otoni Mesquita, aponta que duas décadas separam a construção do piso da praça São Sebastião do calçadão de Copacabana.
"O desenho do piso da praça São Sebastião é uma tradição portuguesa que você pode encontrar em Lisboa e em outras cidades. Mas o de Manaus é de 1901 e o de Copacabana é de 1922. Portanto, pelo menos 20 anos antes, ele foi aplicado aqui, mas pode ter sido aplicado em outros lugares também", apontou.
Reviravolta
Acontece que apesar de teoricamente a praça de São Sebastião surgir primeiro que o Calçadão de Copacabana, essa arquitetura veio anos antes em um outros locais do mundo. Composta de pedras de calcita branca e basalto negro, a calçada Portuguesa teve o seu início em meados do século XIX com uma tecnologia de construção e uma herança histórica semelhante aos mosaicos Romanos. A calçada é o tipo de pavimento mais usado em espaços públicos e principalmente em passeios, não só em Portugal, mas também em países lusófonos (ex-colônias portuguesas).
Segundo pesquisa do historiador José-Augusto França, o granito em formato de ondas foi colocado em 1848, por iniciativa do General Eusébio Pinheiro Furtado, no calçamento da praça Dom Pedro IV, mais conhecida por Rossio, em Lisboa, Portugal. De acordo com França, o desenho das pedras feitas em basalto e calcário, foi um dos primeiros mosaicos deste formato a ser implantado nas praças portuguesas.
As primeiras calçadas foram executadas por presidiários, chamados na época de "grilhetas". Atualmente, em Portugal, os trabalhadores especializados na colocação deste tipo de calçada são denominados mestres calceteiros.
Com a popularidade e o aperfeiçoamento, outros países lusófonos, como o Brasil, trouxeram essas formas para cá. Existem várias cidades brasileiras que possuem essa marca registrada das calçadas portuguesas, como é o caso do 'Monumento aos 18 do Forte', assinado pelo escultor Maurício Bentes, na cidade de Palmas, capital de Tocantins.
Fonte de Pesquisa
PORTAL AMAZÔNIA por KARINA PINHEIRO
BLOG DO MARCUS PESSOA
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