O engenheiro civil Valderino Pereira da Silva, de 73 anos, hoje aposentado, é o homem engenhoso que, mesmo com problemas na vista e andar cuidadoso, é considerado o “cara” da medição, há quase 35 anos, do nível do majestoso e imponente Rio Negro, que banha a metrópole Manaus. A missão é primordial para a previsão de enchentes na capital do Amazonas, que tem enfrentado eventos climáticos extremos nos últimos anos.
Valderino acompanhou de perto, em 2021, a maior enchente do Rio Negro, quando a marca da água atingiu 30,02 metros acima do nível do mar. O número é o maior desde quando a medição da série histórica começou, em 1902. Ao todo, além de Manaus, quase todos os outros 61 municípios do Amazonas costumam registrar inundações e estragos, segundo a Defesa Civil estadual. Somente no ano passado, foram mais de meio milhão de pessoas atingidas pela cheia.
O senhor do Rio Negro
Seja como o “senhor do Rio Negro”, o “Homem do Rio” ou o “Príncipe do Rios”, Valderino Pereira da Silva é referência e amplamente conhecido no Porto de Manaus. O trabalho detalhista do medidor começou, oficialmente, após a morte de um ex-servidor, o José Cavalcante Paiva, responsável direto também por fazer as medições diárias do rio, em meados da década de 1970.
O engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), contudo, atua no Porto de Manaus há, pelo menos, 53 anos. Sua trajetória na região iniciou-se na labuta pesada de serviços gerais. Ele recolhia lixo, fazia faxina, ajudava outros trabalhadores que precisavam de uma mão amiga, mas sempre foi apaixonado mesmo pela medição do rio, momento em que pode desfrutar da paisagem e observar a natureza amazônida.
“Eu tenho 53 anos de porto. Formei em Edificações pela antiga Escola Técnica Federal do Amazonas (Etfam), na década de 1970, e depois eu vim estagiar aqui no porto, quando fui começar a saber tirar a cota. Quando o Paiva estava de férias, era eu quem fazia a leitura. Quando o Paiva se aposentou, eu fiquei como o responsável e sou até hoje”, frisou o medidor Valderino.
É nesse convívio diário com a medição que Valderino notou algumas peculiaridades. Uma delas diz respeito à mudança de comportamento do rio na região de Tabatinga, no Alto Solimões, que se reflete em Manaus. Ou seja, se registrado algum evento climático nas águas da cidade de Tabatinga, o Rio Negro também pode sentir no período aproximado de três semanas.
Casado, pai de três filhos, Valderino conta que o pai dele também trabalhou no Porto de Manaus, motivo que o levava a estar frequentemente naquela região. O engenheiro civil conta com orgulho que, quando o Rio Negro está em época de cheia ou vazante, equipes de jornalistas ou pesquisadores do Brasil todo o procuram para entrevistas ou colher informações.
“Falo com muito orgulho, pois é gratificante. Hoje, sou aposentado, mas venho até o porto com muito prazer. Fazer a medição nunca fez parte das minhas obrigações, mas sempre fiz questão de estar à frente dessa atividade”, finalizou.
Fonte de Pesquisa
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
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