O chafariz das Quimeras nasceu próximo ao Café dos Terríveis, já passou pela Praça Oswaldo Cruz na frente da Booth Line no centro, pela bola do Olímpico, pela Bola do Eldorado e agora está na Praça que leva o nome do nosso querido Jéferson Péres.
Os documentos históricos da Intendência de Manáos nos mostra que o prefeito da época, Dr. Jorge de Morais, assumiu a direção da cidade entre os anos 1911-1913 e foi o primeiro de nossa história a ser eleito pelo voto popular.
Foi no governo de Jorge de Morais que o Chafariz das Quimeras foi erguido entre as ruas Epaminondas e Visconde de Mauá (antiga Demétrio Ribeiro), defronte ao tradicionalíssimo Café dos Terríveis.
Chafarizes são elementos arquitetônicos muito bonitos e interessantes numa praça, porém, os colocados em Manaus fizeram sucesso por algum tempo e depois foram relegados ao abandono e descaso como os da praça da Matriz, da praça Heliodoro Balbi, do Monumento à Abertura dos Portos (no Largo de São Sebastião), da praça da Saudade.
Teve um, porém, teve até nome, o Chafariz das Quimeras, que ‘passeou’ pela cidade durante quase 100 anos e a cada mudança de lugar, perdia um pedaço de sua estrutura original até, finalmente, ser colocado num ‘porto seguro’. Desde 2009 o chafariz está posicionado no Parque Jefferson Peres, felizmente totalmente montado.
Quimera é um monstro mitológico alado, com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente. No Chafariz das Quimeras, quatro destes monstros protegem uma deusa que segura uma tocha com a mão direita.
Uma foto, de 1911, mostra a inauguração do Chafariz das Quimeras em seu primeiro lugar na praça 15 de Novembro, próximo a atual rua Visconde de Mauá. Interessante ver ao fundo o Café dos Terríveis, frequentado pela elite política e intelectual da época. Jorge de Morais (1911/1914) era o prefeito de Manaus e, possivelmente, foi o responsável pela ordem para a instalação do chafariz na cidade, muito embora, naquela época, a economia do Estado estivesse indo ‘ladeira abaixo’ pelo fim do monopólio do comércio da borracha pela Amazônia.
De acordo com o historiador Fábio Augusto de Carvalho Pedrosa, o Chafariz das Quimeras foi fabricado pela fundição francesa Val d’Osne, da cidade de Osne-le-Val, que funcionou de 1835 a 1986. Vendido através de catálogo, o mesmo modelo de chafariz é encontrado em outros países europeus.
Ainda segundo Fábio, em 1927, com a inauguração do Jardim Ajuricaba de Menezes, bem em frente à entrada do porto, para lá o Chafariz das Quimeras foi transferido. O prefeito dessa época era José Francisco de Araújo Lima (1926/1929).
Deusa solitária
Durante anos o Chafariz ficou exposto no centro antigo de Manaus. Anos depois foi instalado na Rua João Coelho, atual Avenida Constantino Nery.
Em 1950 Manaus ganhou uma nova praça, no cruzamento da av. Constantino Nery com o incipiente Boulevard Amazonas (atual av. Álvaro Botelho Maia). Pelo formato redondo, logo o espaço ganhou o nome popular de praça da Bola, ou Bola do Olímpico, pela proximidade com o clube homônimo, mas oficialmente era praça Ajuricaba, depois praça João Pessoa. Em 1968, por motivos desconhecidos, o prefeito Paulo Pinto Nery (1965/1972) mandou retirar o Chafariz das Quimeras do Jardim Ajuricaba de Menezes e, no dia 5 de setembro, o monumento foi inaugurado na ‘Bola do Olímpico’ quando sofreu estranhas alterações, com horríveis paredões de pedra sendo construídos por trás das quimeras, ainda assim, a praça se tornou um aprazível lugar da bucólica cidade.
Mas não demorou muito para o Chafariz das Quimeras sofrer aquelas que seriam as suas piores descaracterizações.
Em 1975 era prefeito de Manaus, Jorge Teixeira de Oliveira (1975/1979), o abridor de avenidas, o destruidor de praças, entre elas, 15 de Novembro, Artur Bernardes (atual Ribeiro da Cunha), Jardim Ajuricaba de Menezes, Jardim Jaú, e Ribeiro Júnior.
“Naquele ano, para alargar a Constantino Nery e o Boulevard, ‘Teixeirão’ acabou com a praça João Pessoa e com o chafariz, deixando no local apenas o pedestal com a deusa e sua tocha. As quimeras, e a bacia do chafariz, foram levados para o então Horto Municipal, atual Cidade da Criança”, contou o historiador Ed Lincon.
“Lembro que um dos leões estava com uma das patas quebrada”, recordou.
Solitária, a deusa permaneceu por mais de 20 anos observando o aumentar do movimento nas duas avenidas até que, por causa exatamente do intenso movimento de veículos, naquele espaço foi construído um viaduto, inaugurado em 1998, e nomeado Dom Jackson Damasceno Rodrigues no ano seguinte. A deusa atrapalhava e já havia sido retirada do local em 1997.
No governo de Amazonino Mendes o Chafariz foi desmontado e no local aconteceu a construção de um Viaduto. Por muitos anos o monumento ficou guardado no depósito da Prefeitura de Manaus e esquecido.
De frente para a deusa
Levada para o Horto Municipal, a deusa se juntou às suas quimeras e lá permaneceram esquecidas. Eis que, em 2003, o prefeito Alfredo Nascimento (1997/2001 e 2001/2004) resolveu restaurar a praça, ou Bola do Eldorado, e alguém teve a idéia de remontar o Chafariz das Quimeras que, na nova praça voltou ao auge como chafariz, com toda sua plenitude mas, com um porém: as quimeras foram dispostas de frente para a deusa, numa montagem totalmente diferente das anteriores o que logo chamou a atenção de vários historiadores. “As feras deveriam proteger a deusa e não estar olhando para ela”, falaram. Ainda assim, não foi dada atenção alguma aos reclamos e naquela disposição elas permaneceram por seis anos.
Na administração do Serafim Corrêa, foi colocado na Praça da Bola do Eldorado, com muita iluminação, tornando o local mais aconchegante. Encantando todos que por ali transitavam.
Mais uma vez, sem se saber de quem partiu a ideia, em 2009, resolveu-se retirar o Chafariz das Quimeras da Bola do Eldorado e levá-lo para o recém inaugurado Parque Jefferson Peres onde, montado como em 1911, parece, finalmente, que o belo monumento ganhou um lugar definitivo, junto a um lago artificial. E funcionando tal qual como no dia de sua primeira inauguração.
Fonte de Pesquisa:
JORNAL DO COMMERCIO | EVALDO FERREIRA
MANAUS DE ANTIGAMENTE
ED LINCON
FÁBIO AUGUSTO CARVALHO
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