quarta-feira, 20 de outubro de 2021

BARBOSA RODRIGUES



 BARBOSA RODRIGUES


No “apagar das luzes” do regime monárquico no Brasil, e sete décadas antes da criação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a então emergente Província do Amazonas foi brindada pelo governo imperial de Dom Pedro II com uma das mais brilhantes instituições científicas do país, à época: o Museu Botânico. Sua concepção, criação, organização, reunião e catalogação de acervo se devem, em primeira e última instância, ao denodo de um único homem, o sábio mineiro João Barbosa Rodrigues (1842-1909), um dos cientistas mais respeitados de seu tempo, no Brasil e na Europa, no campo da Botânica (sua especialidade) e das ciências naturais de modo geral; tendo sido admitido, por seu cabedal, como membro das Academias de Viena, Freiburg, Edimburgo, Florença, Marselha, Paris, Coimbra e Lisboa. Contando com o aval da própria Princesa Isabel e o apoio local do presidente (governador) da Província à época, José Paranaguá - ambas personalidades de alta ilustração intelectual e profundo interesse pela ciência (Paranaguá era mineralogista, inclusive), Barbosa Rodrigues - que já estava radicado no Amazonas desde 1872, coletando e catalogando espécimes vegetais e minerais raros e travando contato com as mais diversas tribos da região -   foi contratado  por Paranaguá com o ‘munus’ de organizador e diretor do Museu Botânico, criado oficialmente por Lei em 18 de junho de 1883 e aberto afinal ao público em 16 de fevereiro de 1884. 


Barbosa Rodrigues não mediu esforços para concretizar o ambicioso projeto, que, em suas próprias palavras, se propunha a ser “um grande laboratório, por cujo cadinho terão de passar os produtos da província; que, devidamente estudados e analisados, serão espalhados depois, para que deles se tirem todos os proveitos, ficando em seus arquivos e em seus armários as provas que atestem esse trabalho em prol da prosperidade do Amazonas”. 


Uma paixão tal que levou o cientista, num curto espaço de apenas dois anos, a reunir um acervo de mais de 3.000 itens no novo museu, dividido em duas seções: Botânica – contendo um herbário com 1.281 amostras de espécies vegetais, frutos, fibras, óleos e resinas da flora amazônica; e mais 800 espécies importadas dos Estados Unidos (Califórnia), México e Chile; e Etnográfica, com uma coleção de 1.103 objetos – entre armas de guerra, utensílios domésticos e adornos ritualísticos - recolhidos em mais de 60 tribos do Amazonas. 


Além das exposições permanentes, o museu dispunha de uma vasta biblioteca científica de alto valor, com dezenas de livros; e um laboratório completo de química vegetal importado à Casa Fontaine, de França. No início, o Museu Botânico funcionou de forma improvisada numa modesta chácara alugada, situada na antiga Ilha do Caxangá. Entretanto logo se transferiria para o amplo palacete do Barão de São Leonardo, à antiga Estrada Gonçalves Dias, atual Rua Ramos Ferreira (futura sede do Instituto Benjamin Constant), desapropriado pelo governo provincial com a finalidade específica de alojar o museu, servindo ainda de residência ao seu diretor. 


Ali permaneceu até 1887, quando, premido por pressões de ordem política, foi mais uma vez transferido para uma das dependências do recém-inaugurado Liceu Provincial (depois, Ginásio Amazonense Pedro II). 


Apesar de todo o empenho e dedicação, o esforço de Barbosa Rodrigues, como acontece até os dias atuais no Brasil, não foi reconhecido e valorizado da forma devida pelos seus contemporâneos. Logo após a proclamação da República, em abril de 1890, o Museu Botânico – que, em seus curtos sete anos de existência (1883-1890), sempre padeceu da crônica falta de verbas oficiais e de pessoal de apoio institucional - foi pura e simplesmente extinto, numa atitude estúpida e mesquinha, pelo novo regime republicano, francamente antipático à figura de Barbosa Rodrigues, por ter sido este um dos muitos intelectuais “protegidos” pela deposta dinastia Bragança. Amargurado, desiludido e desempregado, o sábio arrumou suas malas e rumou para o Rio de Janeiro, a fim de retomar suas pesquisas onde pudesse ter mais chances de ser dignamente acolhido. Por uma dessas ironias do destino, “caiu pra cima”, como se diz popularmente, sendo imediatamente nomeado diretor do Jardim Botânico daquela cidade, cargo que honrou até a sua morte, em 1909, elevando aquele parque-museu carioca à condição de uma das mais respeitadas instituições do gênero no mundo inteiro, ‘status’ que mantém até os dias atuais.  Dentre os mais de trinta livros publicados por Barbosa Rodrigues, em boa parte frutos de seu estudo e vivência de quase duas décadas na Amazônia, destacam-se obras referenciais: “Muiraquitã” (1889) e “Poranduba Amazonense” (1890), ambos calcados nas lendas e nos costumes das nações indígenas com as quais travou contato em suas andanças pelos sertões amazônicos; “Sertum Palmarum Brasiliensium” (1903), um aprofundado estudo de campo sobre a imensa variedade das palmeiras brasileiras; e “Iconografia das Orquídeas do Brasil” (em três belos volumes fartamente ilustrados) – em sua homenagem, inclusive, o “Dia da Orquídea” no Brasil é comemorado em 22 de junho, data de seu aniversário. Deixou ainda como legado de sua gestão à frente do Museu Botânico em Manaus, a Revista “Vellosia”, igualmente de cunho científico, com apontamentos sobre suas observações e impressões sobre a flora, a medicina e a diversidade humana da região amazônica. 


João Barbosa Rodrigues empresta seu nome, mui merecidamente, à magnífica aléia de palmeiras imperiais do Jardim Botânico carioca. Já do Museu Botânico do Amazonas, por ele montado com tanto carinho, resta apenas a melancólica lembrança do que foi e ainda poderia ter sido – o nosso Museu Goeldi, certamente. À guisa de consolação, sobreviveu a sua riquíssima Biblioteca, resguardada por mais de sessenta anos no Ginásio Amazonense, e afinal transferida para o INPA, quando da criação deste instituto, em 1954. Um fato, diga-se de passagem, que, por vias transversas, fez certa justiça histórica à memória do extinto museu e da figura ímpar de Barbosa Rodrigues, a quem o Amazonas muito deve, e que não batiza sequer uma via importante da capital. 


 

Fonte de Pesquisa: Belíssima pesquisa feita por MANAUS SORRISO

 

 


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