Marius Bell (Acervo Abrahim Baze)
A história de Marius Bell está ligada à do cinema manauara, ele pintava os grandes painéis de chamada dos filmes, que ficavam em frente aos principais cinemas da cidade. O artista lembra que criou a logomarca dos dez anos da Rede Amazônica, no início de sua carreira, quando trabalhou para a empresa Amazonas Publicidade LTDA.
Em 30 de outubro de 1976, participou do Oitavo Festival Brasileiro de Filme Publicitário, promovido, no Rio de Janeiro, pela Associação Brasileira de Propaganda –ABP, representando a empresa que trabalhava, Amazonas Publicidade LTDA. Durante a campanha presidencial de Fernando Collor de Mello, pintou um quadro com a foto do candidato, que posteriormente foi presenteado ao então Presidente. Participou também da exposição "Retratos de Estrelas", e produziu o painel que resgatou a memória da Imprensa Oficial, que foi exposto na antiga sede do referido órgão.
O artista plástico Marius Bell nasceu em Manaus, no dia 01 de abril de 1950, sob o nome de Mário Bezerra, e desde criança foi atraído pela arte do desenho. Aluno do terceiro ano primário, no Grupo Escolar Getúlio Vargas, sonhava em ser professor de História,provavelmente, por conta da sofreguidão com que lia gibis, romances de cavalaria e obras de Monteiro Lobato. Naquela época, já fazia desenhos espetaculares, havia descoberto os catecismos de Carlos Zérifo, e começava a ganhar alguns trocados dos colegas de classe replicando aquelas saborosas histórias em quadrinhos, com traços cada vez mais ultrarrealistas.
Cartazes e criatividade...
Ele desenhava a mão os gigantescos cartazes dos filmes em exibição nos cinemas do centro...
MARIUS BELL
Mais que meros pôsteres de filmes, ele criava painéis que podiam ser vistos à distância, por gente que às vezes nem pensava em ir ao cinema e que, atraída pelo colorido, resolvia dar uma chance ao filme em cartaz.
A história de Marius Bell com o cinema começou no fim da década de 1970, quando ele fez uma arte para um dos cinemas da empresa Bernardino. O filme era "O Peixe Assassino". "Era um painel meio sem jeito, eu ainda não dominava as cores primárias", lembra.
Mas foi com Marinho que o artista amazonense viveu o seu auge criativo.
CAUSOS CURIOSOS
Desde o primeiro painel do filme "Bye Bye Brasil", em 1980, Bell fez mais de oito mil cartazes. Desses, ele só repetiu um, do filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos".
🗣"Eu pintava com uma velocidade danada. Se o filme não dava público, precisava ter outro cartaz logo para substituir. 'Manhattan', do Woody Allen, foi um desses. Deu duas ou três pessoas", revela.
🗣"O Marinho perguntou se eu era capaz de fazer uma mandíbula. Um amigo dele que era químico preparou um líquido vermelho que ficava pingando. Teve um espectador que tomou um susto ao ver o 'sangue' caindo na camisa e foi reclamar. Só que a tinta saía pouco tempo depois", esclarece.
Após mais de 20 anos de sucessos, o fim dessa era dos cinemas comandados por Marinho se deu no início dos anos 2000.
🗣"Eu ia redesenhar o cartaz do 'Homem-Aranha'. Tinha umas ideias legais. Infelizmente, fui surpreendido pela notícia de que o Chaplin estava fechando as portas", comenta.
O apego com os cinemas do Centro impediu Marius de continuar frequentando os dos shoppings.
Atualmente, a capital segue com mais de 60 salas de projeção espalhadas nos centros de compras da cidade.
🗣"Não tem o mesmo encantamento da minha infância. O fascinante do cinema é que eu assistia não para pintar. [Os filmes] tinham uns temas gostosos. Os anos 1980 foram uma época marcante para nós todos que vivemos aquela época. Tanto o filme quanto a trilha eram bem trabalhados. Você se envolvia de graça no cinema", diz.
Na maioria das vezes, fazia desenhos com o rosto da professora, que era o terror da sala, afinal, ninguém gostava dela. Durante uma aula de português, cuja tarefa de classe era escrever o ditado "A caneca da Cecília", recitado pela professora, Marius começou a desenhar, a pedido de um dos colegas, ele compenetrado no desenho, foi surpreendido pela sua professora que se aproximou e puxou-lhe pela orelha, antes que pudesse reagir, ela tomou o desenho de suas mãos.
Marius Bell, o promissor artista plástico, começou a trabalhar como auxiliar de gari do Departamento Estadual de Rodagem do Amazonas, após ter sido castigado pela mãe por ter feito um desenho erótico, em sala de aula. Retirar as ervas daninhas que teimavam em nascer entre os paralelepípedos da Rua Carvalho Leal, era um trabalho difícil, para executar essa tarefa estava munido de uma pequena faca artesanal feita de um pedaço de flande, como cabo de madeira. Bell não realizou seu grande sonho de ser professor de História, estudou na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) Arquitetura e Urbanismo até o terceiro período, não concluiu o curso, mas Manaus ganhou um tremendo artista plástico.
No interior do Amazonas, em Borba, existe outra importante obra de Marius Bell,trata-se de uma imponente imagem de Santo Antônio, ao lado da Basílica de Santo Antônio de Borba, a quinta do mundo a guardar um pequeno "relicário" com os restos mortais do santo. Esse município é considerado como a Terra dos Milagres, e recebe visitantes de várias partes do mundo, para participar dos festejos de Santo Antônio. A construção desse monumento levou quatro meses para ser concluída, foram empregados, aproximadamente,150 operários. Além disso, o artista plástico contou com parceiros importantes, como o marceneiro Edvaldo Smurf, o poeta Marcos Gomes, que colaborou na logística, Lildo Fado,responsável pela administração financeira, Pedro Profeta, que executou os desenhos ampliados e Jones Karrer, então prefeito da cidade. A estátua, que está de frente para o rio,também foi fonte de inspiração para a criação de um dos mais conhecidos poemas do jornalista e membro da Academia Amazonense de Letras, Aldisio Filgueiras: "Santo Antônio de Borba que o Diga".
No decorrer de sua carreira fez inúmeros cursos, como a "Importância da Propaganda no Mundo de Hoje", no Sebrae, em 1989 e, também no Sebrae, fez o curso"Formação de Arte Finalista do treinamento". Teve, ainda, a oportunidade de cursar a"Iniciação e Produção Comercial de TV", promovido pela Rede Amazônica de Rádio e Televisão, em parceria com o Senac. Participou do "Programa de Desenvolvimento Empresarial" e da "Primeira Oficina Preparatória" para o Primeiro Encontro Sul-Americano das Culturas Populares e, "Segundo Seminário de Políticas de Culturas Populares", realizado pela Secretaria de Cultura do Amazonas.
Em abril de 2008, lança-se ao seu maior desafio e como roteirista, produziu seu primeiro curta-metragem, baseado em uma monografia do Curso de História, com o título"Obras e Artes de Cemitérios". Marius Bell segue criando seus trabalhos e participando de importantes exposições que ocorrem em Manaus e no Brasil, especialmente, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
📸 Fotos do acervo pessoal de Marius Bell.
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