domingo, 10 de março de 2024

Hospital São Sebastião



Duas imagens raras, retratando a fachada posterior...



e anterior...



do Hospital São Sebastião, centro de tratamento para tuberculosos administrado pela Santa Casa de Misericórdia, que funcionou, entre as décadas de 1920 e 1950, no imóvel localizado na esquina das ruas Ramos Ferreira e Wilkens de Mattos, no bairro de Aparecida.

Não há notícia exata acerca da data da construção do edifício, nem de sua destinação original, mas era um belo prédio de linhas neoclássicas, como se pode notar da rara foto superior, que mostra a fachada voltada para o que, à época, constituía um vasto descampado, e que hoje se encontra ocupado por construções diversas. A foto abaixo, mais conhecida, retrata a entrada principal do hospital, de desenho mais simples, voltada para a Rua Ramos Ferreira, ao lado da atual quadra da Escola de Samba de Aparecida.

O início das atividades do Hospital São Sebastião deu-se em 1923, por iniciativa de um projeto de lei da Câmara Municipal, que, juntamente com um auxílio mensal de 1 conto de réis (uma soma relativamente expressiva em termos monetários), cedeu em usufruto à Santa Casa de Misericórdia, pelo prazo de 50 anos, um “próprio” (imóvel) do Município, a fim de que aquela instituição caritativa ali instalasse um centro de acolhimento aos doentes portadores do “mal do século”, ou a “peste branca”, denominações aplicadas, no jargão literário, à tuberculose.

A temida doença pulmonar bacteriana, transmitida pelo “Bacilo de Koch” se constituía num mal incurável à época, na grande maioria dos casos, e que representava para aqueles por ela acometidos uma verdadeira sentença de morte, num prazo de poucos meses ou anos, uma vez agravado o quadro crônico de tosses, escarros, dor no peito, suor frio, febre e, finalmente, a terrível hemoptise (a violenta hemorragia bucal e nasal), prenúncio do iminente desenlace do paciente. Basta ver as estatísticas referentes ao Hospital de São Sebastião, na década de 1930, que revelam que, da média de 80 a 90 doentes ali internados a cada ano, em torno de 60% chegaram a óbito. Essa era uma realidade não apenas de Manaus, mas do mundo inteiro, até 1944, quando foi anunciada pelo cientista  ucraniano (naturalizado norte-americano) Selman Abraham Waksman, a descoberta da estreptomicina, o primeiro fármaco antibiótico – de muitos outros que seriam desenvolvidos nos anos seguintes - de comprovada eficácia no combate à tuberculose.  

O Hospital São Sebastião funcionou no endereço do bairro de Aparecida por mais de um quarto de século, até o início da década de 1950. Durante mais de vinte anos foi dirigido por um dos mais eminentes médicos amazonenses, o Dr. Kronge de Azevedo Perdigão (?-1956), formado pela prestigiada Faculdade de Medicina da Bahia, e o primeiro clínico em Manaus a se especializar em tisiologia (estudo da tuberculose). Nesse ínterim, houve duas tentativas de construção de um prédio hospitalar de estrutura mais moderna, destinado a acolher, de forma condizente com os padrões sanitários então vigentes, os doentes tísicos (tuberculosos). A primeira foi em 1928, quando a Santa Casa - por meio de rifas (venda de bilhetes premiados) de modernas casas destinadas à classe média, do tipo “bangalô” - pretendeu angariar fundos para edificar um novo e grande hospital no ‘Boulevard’ Amazonas (atual ‘Boulevard’ Álvaro Maia), e que ocuparia uma quadra inteira, defronte ao Cemitério São Batista. O projeto, todavia, ficou apenas na boa intenção, certamente por falta do numerário suficiente para uma obra tão vultosa. A segunda tentativa nesse sentido se deu durante o governo intervencionista de Álvaro Maia (1935-1945), que, em 1944, chegou a expor em mensagem governamental o intuito de transferir os tuberculosos para o prédio da distante Escola Agrícola do Paredão (localizada próxima ao “Encontro das Águas”), devidamente adaptada para a nova finalidade. Outro intento malogrado, por circunstâncias também não muito claras.

No final da década de 1940, motivada pela intensa campanha contra a terrível moléstia pulmonar, levada a efeito em nível nacional, a “Liga Amazonense Contra a Tuberculose”, uma entidade civil sem fins lucrativos, criada em 1932, ganhou grande força junto à sociedade. Era então presidida por Kronge Perdigão e capitaneada por um trio de renomados médicos tisiologistas: Djalma Batista, Carlos Melo e Raymundo Moura Tapajós. Graças ao prestígio e ao denodo destes abnegados doutores, e ao empenho de políticos e de outras pessoas de expressão na sociedade local, foi inaugurado em 1946 o novo "Dispensário Cardoso Fontes", à Rua Lobo D´Almada, um posto clínico totalmente voltado para o atendimento aos tuberculosos. Também nesse mesma época, em 1950, foi dado início, durante o governo Leopoldo Neves (1947-1951), à construção do Sanatório Adriano Jorge (atual Hospital Adriano Jorge), no bairro da Cachoeirinha, com 430 leitos, inaugurado em 30 de junho de 1953, como centro hospitalar de referência regional, dentro das políticas públicas delineadas pelo grupo de trabalho envolvido na “Campanha Nacional Contra a Tuberculose” (CNCT), coordenada em todo o Brasil pelo eminente médico tisiologista Raphael de Paula Souza. 

Tendo como seu primeiro diretor (não por coincidência) o dedicado Dr. Kronge Perdigão, o Sanatório Adriano Jorge passou a acolher, paulatinamente, os tísicos que antes eram internados no velho Hospital São Sebastião (àquela altura dispondo de apenas 36 leitos), o que culminou no encerramento das atividades deste último, no início da década de 1960, já completamente obsoleto e carente de todos os recursos médicos para assistir os poucos pacientes que ali ainda se encontravam internados. Uma vez fechado o hospital em definitivo, o prédio foi entregue pela Santa Casa, em 1963, à sua legítima proprietária, a Prefeitura Municipal. Mas, infelizmente, seria demolido algum tempo depois, apesar da manifesta intenção do então prefeito, Josué Cláudio de Souza, de nele instalar um pronto-socorro municipal.

A terrível tuberculose, contudo, apesar de todos os grandes avanços da Medicina na segunda metade do século XX, recrudesceu bastante nas últimas décadas em todo o Brasil, impulsionada pelas más condições sociais e sanitárias de grande parte da população de menor poder aquisitivo. E ainda continua a fazer um expressivo número de vítimas no Amazonas, como demonstrou o censo sanitário de 2022, do Ministério da Saúde, que colocou o Estado em primeiro lugar no ‘ranking’ nacional da estatística da doença, com 3.826 casos registrados e 214 óbitos. Triste sinal dos novos tempos... 

 


   

Fonte de Pesquisa

Manaus Sorriso. 

Foto(s)

Fotografias extraídas da Revista do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), e disponibilizadas recentemente nas redes sociais através da página pessoal do pesquisador Geraldo dos Anjos.







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